segunda-feira, 21 de setembro de 2009

muLheres

Arrependimento é igual sentir saudades de quem já morreu. Você sabe que é inútil, que é sem cura, mas o espírito simplesmente não tem força pra esquecer e deixar aquele sentimento de lado.

Depois que ter perdido a Letícia, nada, nunca mais foi o mesmo.
Eu nunca levei meus casos e namoradas muito a sério. Tinha um relacionamento aberto e bem resolvido com a minha noiva e, embora me apaixonasse amiúde, meu amor era dela. Eu poderia ter a mulher que conseguisse seduzir mas no fim, minha lealdade era da Lúcia. E era sempre pros braços dela que eu voltava quando minhas paixonites se consumiam e apagavam.
A Letícia, porém, abriu a caixa de Pandora e pela primeira vez na vida eu cogitei abandonar meu noivado, meus planos de casamento e oferecer meu coração pra outra mulher.
Quem tudo quer (ou: quem não sabe o que quer) tudo perde e quando a Letícia se foi eu me confrontei com a solidão extrema de ter descoberto que meu amor pela Lúcia tinha ido embora também.
Dois anos depois, quando eu cancelei o casamento há três meses da cerimônia, minha paixão pela Léa foi só a justificativa pra algo que eu já queria e sabia que aconteceria. Só não tinha (ainda) reunido coragem pra fazer.
Depois da Letícia, todos os meus casos foram mornos ou doentios, ou mornos e doentios. Então, quando a Léa trouxe algum colorido, trouxe novidade, trouxe paixão suficiente pra ofuscar a luz (fraca e já agonizante) da Lúcia, foi fácil me entregar de novo. Me doar inteiro. Sentir amor outra vez.

A Lúcia me deu à luz. Letícia me matou. A Léa foi o desfibrilador.

Colocar os fatos lado a lado desse modo ajuda a criar a ilusão confortável de ordem nas coisas. Faz imaginar uma estrutura de roteiro de cinema na vida que, na real, é caótica e nada mais.
Faz pensar no percurso que seguimos na vida e das transformações (às vezes indeléveis) pelas quais passamos.
Faz entender que, nada melhor do que a mulher pra te transformar num homem.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tudo pela arte

A palavra que melhor descreve o que eu estava sentido é "pânico"!
Ali estava eu, um moleque de 19 anos, morrendo de frio, nu, deitado numa cama alheia e sendo cavalgado por uma mulher beirando os 40, enquanto o marido parado na porta, simplesmente olhava.

Eu estava expondo umas gravuras num evento de artes promovido pela prefeitura da cidade.
A abertura seria um coquetel com figurões, políticos e os artistas expositores, então eu chamei alguns amigos e fomos nos embebedar de graça.

Lá pelas tantas me apareceu um homem puxando papo. Ele pediu que eu fosse ver seus trabalhos. Fui.
Eram pinturas abstratas em acrílica e eu nunca tive dom pra entender e apreciar aquele tipo de abstração. Dei minhas opiniões, ele gostou, descobrimos afinidades artísticas e filosóficas, fizemos amizade e, antes do fim da noite já tínhamos combinado criar juntos uma série de pinturas semi-abstratas de temática erótica.
Na hora de colocar as idéias em prática e começar a produzir as pinturas nos deparamos com o problema da falta de uma modelo.
Se a cabeça do cara não estivesse cheia de segundas intenções, talvez ele tivesse aceitado minha sugestão de contratar umas prostitutas. Como a cabeça do cara estava cheia de segundas intenções, ele sugeriu que a modelo fosse sua esposa e por mim, tudo bem. Meu interesse era a arte.

Foi pela arte que, na primeira sessão, depois de ter esboçado algumas coisas e começado a primeira tela, eu topei posar pra um quadro sobre sexo oral que meu colega tinha planejado.
Foi pela arte e só pela arte, que eu suportei ficar inerte por mais de uma hora tendo contato íntimo com uma desconhecida casada.
Foi tão somente pela arte que eu aceitei posar em meia dúzia de outras posições pra meia dúzia de outros esboços em grafite.

É claro que, depois disso tudo, arte era a última coisa que me passava pela cabeça. A essas alturas eu já tinha sacado que era a vítima pueril de um casal fetichista. Já tinha sentido e passado por cima de todo e qualquer pudor. Já tinha superado todo o pânico e transcendido o que eu achava normal, moral, sensual e aceitável.

Terminado o espetáculo pornográfico encenado pra platéia de um homem só, fui embora.

Os quadros inacabados ficaram lá. Meu conjunto de tintas ficou lá. Os esboços ficaram lá. Minha inocência também. Nunca mais voltei pra buscar.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A mulher quando quer, ninguém segura.

Ela ligou e eu atendi. Era a Jane, colega de classe da minha irmã.
Coisa de umas semanas antes eu tinha ouvido falar dela pela primeira vez. A guria tinha me visto zanzando pela escola num dia qualquer em que eu não tinha nada melhor pra fazer e tinha ido lá falar oi pra uns amigos. Disseram que ela me viu e ficou interessada.

Já passava das oito da noite e, como minha irmã não estava em casa começamos a conversar.
Jane parecia ser bastante interessante, era inteligente, falava bem, tinha bom humor e um sotaque paulistano forte.
Sempre achei muito sexy meninas com sotaque paulistano, aquele jeitinho de entortar o "n", o "r" tremido... marcamos um encontro aquela noite mesmo.
Quando nos encontramos vi que a guria não era tão sexy quanto parecia ao telefone mas, como ainda assim era bastante inteligente, falava bem, tinha bom humor e um sotaque paulistano forte, gostei dela e acabamos ficando amigos.

Ela começou a fazer os trabalhos de escola com minha irmã, frequentava minha casa, fez amizade com meus pais, nos convidava a passar fins de semana em sua casa à beira da represa.
A guria me passava cantadas desconcertantes, inflava meu ego, mandava caixas de trufas de presente, escrevia bilhetes picantes nos meus cadernos de rascunho e, um dia, mandou entregarem um buquê gigantesco de lírios.
A maior surpresa, porém, ainda estava por vir.

Numa tarde, quando eu ia pro curso de francês, encontrei com Jane e uma multidão de seus colegas de classe. Fui abraçá-la como sempre fazia e, de repente, a guria enlaçou meu pescoço com os braços e roubou-me um belo dum beijo.
A multidão começou a aplaudir e como o constrangimento já estava pago e o beijo, no fim das contas, foi muito bom, agarrei-a e retribuí.
Nas semanas que seguiram, tivemos um caso recheado de trufas, buquês, ótimos beijos, finais de semana na rede à beira da represa e bate-papos divertidíssimos.

O dia em que acabou foi tão constrangedor quanto o dia em que começou. Mas isso é história pra outro post.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Escorpião

Ela era de escorpião. Terceiro decanato de escorpião. Se chamava Josie. Mas até então eu não sabia disso.
Sabia que ela era lânguida feito um lince, tinha longos cabelos negros, pernas compridas, quadris esguios, boca grande, lábios finos, um hipnotizante ar blasé, postura de modelo e olhos de sono que não saíam de cima de mim.
Fiquei pensando que ela tivesse me achado esquisito, que se abismara com minha feiúra, que estivesse tirando sarro. Nada disso.

Ela me queria e como eu não fora capaz de perceber por conta própria, Josie fez com que uma amiga viesse me dizer.
Era a festa de aniversário de um dos meus irmãos mais velhos. Uma festa regada a álcool, drogas e rock'n roll. Estávamos todos loucos, bêbados, surdos pelo Led Zeppelin que arrebentava guitarras e baterias no aparelho de som. Tinha chovido e nós mal percebemos. Tinha irrompido a maior tempestade que o estado de São Paulo sofrera em décadas e as ruas estavam cheias de lama, galhos e troncos de árvores derrubados pelo vento.
A tempestade tinha virado a cidade do avesso e a Josie tinha revirado sua língua na minha boca. Tinha desalinhado meu cabelo, amarrotado minha roupa.
A tempestade tinha encharcado as ruas e a Josie tinha me deixado empapado de suor.
A tempestade tinha lambido as copas das árvores, os telhados das casas e a Josie tinha lambido minha pele e deixado marcas roxas no meu pescoço. Vergões nas minhas costas e saliva nos meus ouvidos.

No dia seguinte, a cidade se recuperava do prejuízo causado pelo tornado e eu tentava me recuperar do furacão que tinha me acometido aquela menina de escorpião.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Letícia

Tinha tudo pra ser perfeito.
Eu era jovem, romântico, apaixonado. Todas as tardes arranjava um tempo e ia buscá-la na academia. Às vezes eu a levava até em casa buscando caminhos alternativos pra que ninguém nos visse e pra que levasse mais tempo até chegarmos. Às vezes ela inventava alguma mentira pros pais e íamos pra uma pracinha linda que havia ali perto, cheia de árvores, chão de paralelepípedos e canteiros com lírios amarelos. Nos sentávamos no banco - eu de frente pra ela - e enlaçava meus dedos nos cachinhos dos seus cabelos loiros, rindo sem conseguir escutar nenhuma palavra do que ela dizia, tão hipnotizado eu estava pelas sardas em seu rosto. Pelos seus olhinhos verdes que quase fechavam quando ela sorria com aqueles lábios finos. Um sorriso tão bobo, tão pueril, tão encantador.
Ela era linda, fresca, pura. Jogava hand-ball, fazia dança-do-ventre, tinha a voz rouca, ficava meio dura quando eu a beijava, meio sem jeito. Ela gostava de tirar meus anéis e vesti-los em seus dedos só pra ver o quanto ficavam largos. Não sabia nada de nada e eu tinha de ensiná-la os nomes das constelações, corrigir as concordâncias, discorrer sobre quem era Modigliani.
Eu a escutava reclamar da vida e de problemas tolos e achava graça porque sabia que, de tudo, aqueles eram os menores problemas que ela teria na vida.
Nós andávamos de mãos dadas, mas só quando não tinha ninguém por perto. E quando eu ia em sua casa visitar sua irmã (que era minha amiga), trocávamos olhares cúmplices e disfarçados. Sentávamos bem longe um do outro e quando eu pedia um copo d'água ela se oferecia imediatamente pra buscar. Eu a acompanhava até a porta da geladeira pra que - longe das testemunhas - nos beijássemos um pouco. Depois conversávamos alto pra parecer que nada tinha acontecido. Ríamos e voltávamos pra sala.
Ela escondia furtivamente fotos e cartas de amor nos bolsos da minha mochila e quando eu chegava em casa lia os papéis e os guardava entre as roupas da gaveta.
Eu tinha acabado de receber a dispensa do serviço militar, era cinco anos mais velho que ela, ganhava pouco como auxiliar de borracheiro mas gastei um terço do meu salário numa camisa e outro terço num par de brincos de imitação de topázio.
Antes que eu pudesse lhe entregar o presente, sua irmã mais velha - minha amiga - cheia de cólera e ciúmes por descobrir que estávamos namorando me dedurou. Contou pra minha amada que ela também tinha um caso comigo e que, além disso, eu tinha uma noiva em Minas.

Os brincos nunca saíram da minha gaveta.
Eu tinha feito um desenho em que nós dois nos abraçávamos na pracinha cheia de liríos. Ela nunca viu o desenho. Nunca mais atendeu meus telefonemas e mandou que a recepcionista da academia não me deixasse entrar. Nunca mais olhou no meu rosto. Mudava de calçada se me visse na rua, fazia de conta que não me conhecia. Devolveu meus bilhetes.
E eu sentia mágoa. Menos por tê-la perdido e mais por tê-la perdido sem ter tido a chance de sequer tentar me explicar.

Então, todas as tardes eu me escondia no banheiro da borracharia pra chorar enquanto escutava a torneira da pia pingando o nome dela: Letícia, Letícia, Letícia, Letícia, Letícia...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Memórias

Dizem (embora eu não acredite) que nos últimos suspiros, pouco antes de entregar os pontos pra morte a gente relembra das coisas mais relevantes de nossa vida.

Quando eu era criança minha irmã mais nova tinha uma amiga que tinha uma irmã mais nova. Nós nos apaixonamos, eu e a irmã mais nova da amiga de minha irmã.
Minha família morava num sítio lindo e todos os finais de semana essas duas irmãs iam passear por lá. Um dia, nadando no córrego, a menina deu um mergulho. Eu a acompanhei, segurei em seus braços e beijei seus lábios.

Tinha uma amiga de escola por quem eu era apaixonado na adolescência. Ela tinha namorado (mais velho, mais alto e mais forte que eu). Todos os dias ela vinha até minha sala durante o intervalo e ficávamos conversando. No fim do intervalo ela ia embora e só voltava no dia seguinte. Todos os dias.
Um dia ela deixou de aparecer e só voltou depois de um mês. Durante aquele mês de ausência eu senti tanto a falta dela, senti tanto medo que ela nunca mais voltasse que, no dia em que ela voltou, depois de acabado o intervalo eu segurei-a, olhei em seus olhos e disse: "Eu te amo!" Foi a primeira vez que eu disse aquilo pra alguém.

Eu estudava à noite e estava sentado na calçada da escola, esperando que meu pai viesse me buscar pois minha bicicleta estava no conserto.
Minha aula tinha acabado mais cedo naquele dia e minha namorada tinha ido embora.
A Lúcia tinha aula normal mas, me vendo ali, resolveu fazer companhia.
Éramos inseparáveis. Ela era minha melhor amiga e eu estava prestes a me mudar de Minas pro estado de São Paulo. A perspectiva da separação vinha nos deixando arrasados.
Naquela noite eu olhei pros olhos de Lúcia, agarrei em seu pescoço e beijei-a na boca como se nunca mais fôssemos nos ver.

Tinha uma guria por quem eu sentia tesão. Depois de umas semanas de xaveco, uma noite rolou o beijo. Eu esperava pelo beijo, só não esperava que fosse um beijo tão bom.
A boca da guria era simplesmente a boca mais macia, suave, quente, húmida e safada que eu já tinha beijado até então. Por alguns segundos o tempo parou, eu entrei em êxtase, fui até o paraíso e voltei. Nunca tinha me ocorrido que um reles beijo pudesse gerar sensações tão fortes e alucinantes.

Eu estava trabalhando numa borracharia e namorava uma guria bem mais nova que eu. Ela era irmã da menina do parágrafo logo acima e tinha sido um pequeno milagre que me aconteceu. Ela era doce, linda, meiga, amorosa, pueril, sensível e tinha o beijo parecido com o da irmã mais velha. Era perfeita! Realmente um presente dos céus.
Uma tarde, saindo do trabalho, as mãos cheias de calos, graxa e pó de borracha, o rosto salgado de suor, encontrei com ela que estava a caminho de sua aula de dança do ventre.
Conversamos um pouco e eu disse que queria beijá-la mas estava tão sujo que nem tinha coragem. Antes que eu terminasse de falar ela me puxou pela camiseta e deu-me um beijo demorado, molhado e cheio de paixão.

Depois de ter beijado pela primeira vez a boca da Léa e de ter me certificado de que ela estava perfeitamente consolada, resolvi ir embora. Quando eu estava pra atravessar o portão,lembrei que tinha deixado minha blusa em cima do sofá e voltei pra buscar. Ao chegar na porta, Léa estava lá me esperando já com a blusa na mão. Antes de me devolver, ela cheirou a blusa e sorriu. Aquilo me apaixonou.

Na segunda vez que encontrei a Renata tínhamos marcado de ir no cinema. Eu ainda estava inseguro sobre qual seria o momento certo de beijá-la de novo e temia que ela pudesse não querer. No meio da sessão, deixei que minha mão caísse sobre a dela e a guria se pôs a acarinhar minha palma com seu polegar. Foi quando eu suspeitei pela primeira vez que aquilo daria bem mais que um mero affair.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Óleo de Amêndoas Paixão

Das gurias que passaram pela minha vida, nenhuma foi tão responsável pela construção do meu gosto para mulheres quanto a Angélica.
Ela era sobrinha de uma amiga da juventude de minha mãe.
Todo final de ano, quando viajávamos pra cidade em que minha mãe crescera, eu me encontrava com Angélica.

Eu mal sabia escrever e já tinha um tesão por ela. A guria era uma coisinha desengonçada, raquítica, cabeluda e de voz estridente. Mas eu a adorava.

Mais de 8 anos depois eu tinha 14 e minha família se mudou praquela cidade e, depois de muito tempo, reencontrei inesperadamente minha paixonite platônica de infância.
Angélica estava agora com 16 anos. Suas coxas tinham engrossado, os peitos crescido, sua boca tinha tornado-se um pecado carnudo e vermelho, sua voz suave. O cabelo continuava a mesma coisa.
Nos tornamos amigos imediatamente. Ela ia sempre em casa, conversávamos sobre sexo, eu lia meus textos e poemas adolescentóides e ela me falava sobre coisas da vida que eu (submerso em meu mundinho nerd) desconhecia como, por exemplo, o fascinante conceito de "ficar".
Poder beijar e usufruir do corpo de uma pessoa sem maiores compromissos era uma ideia que nunca tinha me ocorrido e que soou linda e mágica. Quase divina! E agora que eu tinha aprendido, tudo o que eu queria era "ficar" com Angélica.
Ela sabia disso. Me seduzia, brincava a respeito, provocava, achava tudo bem quando eu ameaçava roubar-lhe um beijo enquanto dormisse. Mas eu só ameaçava.

Isso não mudou no decorrer dos 18 meses em que moramos na mesma cidade. Angélica foi tornando-se meu modelo de mulher ideal. Eu gostava das roupas que ela vestia, os jeans justos, blusinhas leves e rendadas, batas românticas, aquela imensa cabeleira negra, ondulada e incontrolável, os batons super vermelhos, os olhos grandes, o perfume...

Depois eu me mudei. Cresci. Deixei de ser tão moleque e tão tímido. Numas férias, fui sozinho pra cidade e a primeira pessoa que visitei foi ela: minha musa morena. Minha própria Sônia Braga.
Conversamos por horas a fio sobre milhões de assuntos e quando vez por outra nos tocávamos, brotava uma faísca elétrica que espalhava um desejo absurdo por nossos corpos, arrepiando a pele e deixando a boca cheia de saliva, as pupilas dilatadas...
Quando a avó de Angélica inocentemente me convidou a pernoitar por ali eu não hesitei em aceitar.
Depois do banho, Angélica veio assistir televisão usando um camisetão comprido, desses de flanela e pôs-se a besuntar as coxas e os braços com Óleo de Amêndoas Paixão enquanto ria displicentemente de alguma cena da novela.

Os velhos foram dormir cedo como dormiam (pra nossa sorte) todos os velhos e a madrugada foi só nossa. E foi cheia do perfume inebriante daquele óleo, de respirações ofegantes e línguas molhadas ao pé do ouvido, de arranhões na pele, chupões nos pescoços, virilhas, seios, peito, costas, lingeries semi-transparentes pelo chão, fios de cabelos presos em suor, marcas de dentes nos ombros e felicidade.
A felicidade que só a saciedade de uma fome de anos pode proporcionar.

....................

Depois disso fui embora. Eu e Angélica nunca mais nos falamos.
Só sei que ela se casou, tem pelo menos um filho e durante anos, muitas das minhas namoradas tiveram de usar Óleo de Amêndoas Paixão.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Diálogo 05

_Por quê que você é assim?
_Assim como?
_Assim, canalha.
_???
_Por quê é que você fica comigo se você tem uma noiva?
_Bom... Em parte porque você consente. E também porque eu gosto muito de você e gosto muito da minha noiva. Porque ela tem um pouco de tudo o que eu espero numa mulher ideal e você tem mais um pouco.
_Quer dizer que eu e ela juntas somos a sua "mulher ideal"?
_Não. Mas chegam beeeem perto.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Lustrando os Cornos

Em se tratando de relacionamentos amorosos quase nada é certo e absoluto. Tudo é variável!
Exceto isso: "um dia você será corno".

Pode parecer triste, pode soar fatalismo mas é fato. Pelo menos uma vez na vida você se verá lustrando os chifres.

Eu tive muitas namoradas e é possível que pelo menos metade delas tenha ornado minha cabeça de alguma forma. Nunca vi nada. Nunca soube de nada. Pra falar a verdade, nunca tive sequer desconfianças.
Exceto uma vez. Exceto com uma garota. Exceto no meu casamento.

Nesta ocasião eu tive minhas suspeitas. Fiz minhas investigações. Descobri os fatos. E pela primeira vez na vida me vi - comprovadamente - corneado.

É incrível a sensação de impotência que se tem. Sentir-se ultrajado, enojado, traído, roubado, humilhado, conspurcado, reduzido, envergonhado, abandonado, ferido e milhões de outros adjetivos nada agradáveis que eu poderia perder horas escrevendo.
Você se sente tudo de ruim. O lixo do mundo. A escória dos homens.
E depois você sente raiva. Pensa em comprar um 38. Substitui a ideia do 38 pela ideia de um punhal pra tornar tudo mais lento e doloroso pra quem quer que seja a vítima da sua fúria (o cônjuge traidor, o amante ou os dois).
Depois você pensa em perdoar. Depois você pensa em sexo. Pensa no corpo que era seu sendo desfrutado por outro macho e isso te dá nojo.
Pensa nas nuances, nos pequenos detalhes, nas piadas internas, em tudo de corriqueiro e lindo que foi sendo construído ao longo dos anos, sendo jogado fora em favor de uma noite de frivolidades sexuais.
Então você abandona a ideia de perdoar e volta a ter raiva. Mas agora uma raiva diferente. Controlada. Calculista.
Você arquiteta uma vingança.
E mesmo que você nunca execute a vingança, você a arquiteta nos menores detalhes. Seu desejo é retribuir toda a humilhação sentida. Tentar fazer com que a pessoa perceba quão grave foi o crime. Fazer com que a pessoa lamente ter cometido esse erro. Fazer com que a pessoa sofra pra que você se sinta menos injustiçado. Menos roubado.

É claro que não funciona.

A única coisa que funciona, a única coisa que resolve realmente é o tempo. Diferente do prazer a dor não deixa sabor residual. Tão logo a dor se vá, vai com ela a lembrança da dor.
Depois disso, você pode até não perdoar, mas também já não liga tanto.
E com relação ao corno, a melhor parte é que só o primeiro dói realmente.
Depois da primeira vez, você já não sofre tanto se for traído uma segunda. Ou melhor dizendo: se DESCOBRIR que foi traído uma segunda.
Porque o corno só existe se você sabe dele.