sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tudo pela arte

A palavra que melhor descreve o que eu estava sentido é "pânico"!
Ali estava eu, um moleque de 19 anos, morrendo de frio, nu, deitado numa cama alheia e sendo cavalgado por uma mulher beirando os 40, enquanto o marido parado na porta, simplesmente olhava.

Eu estava expondo umas gravuras num evento de artes promovido pela prefeitura da cidade.
A abertura seria um coquetel com figurões, políticos e os artistas expositores, então eu chamei alguns amigos e fomos nos embebedar de graça.

Lá pelas tantas me apareceu um homem puxando papo. Ele pediu que eu fosse ver seus trabalhos. Fui.
Eram pinturas abstratas em acrílica e eu nunca tive dom pra entender e apreciar aquele tipo de abstração. Dei minhas opiniões, ele gostou, descobrimos afinidades artísticas e filosóficas, fizemos amizade e, antes do fim da noite já tínhamos combinado criar juntos uma série de pinturas semi-abstratas de temática erótica.
Na hora de colocar as idéias em prática e começar a produzir as pinturas nos deparamos com o problema da falta de uma modelo.
Se a cabeça do cara não estivesse cheia de segundas intenções, talvez ele tivesse aceitado minha sugestão de contratar umas prostitutas. Como a cabeça do cara estava cheia de segundas intenções, ele sugeriu que a modelo fosse sua esposa e por mim, tudo bem. Meu interesse era a arte.

Foi pela arte que, na primeira sessão, depois de ter esboçado algumas coisas e começado a primeira tela, eu topei posar pra um quadro sobre sexo oral que meu colega tinha planejado.
Foi pela arte e só pela arte, que eu suportei ficar inerte por mais de uma hora tendo contato íntimo com uma desconhecida casada.
Foi tão somente pela arte que eu aceitei posar em meia dúzia de outras posições pra meia dúzia de outros esboços em grafite.

É claro que, depois disso tudo, arte era a última coisa que me passava pela cabeça. A essas alturas eu já tinha sacado que era a vítima pueril de um casal fetichista. Já tinha sentido e passado por cima de todo e qualquer pudor. Já tinha superado todo o pânico e transcendido o que eu achava normal, moral, sensual e aceitável.

Terminado o espetáculo pornográfico encenado pra platéia de um homem só, fui embora.

Os quadros inacabados ficaram lá. Meu conjunto de tintas ficou lá. Os esboços ficaram lá. Minha inocência também. Nunca mais voltei pra buscar.

3 comentários:

Mari disse...

=)

Unknown disse...

ah... que arte descritiva mais perigosa e boa rs... nesta fase Saara da minha vida, ler seus textos melhoram minha imaginação kkkk

beijo

Unknown disse...

uii!
a melhor perda de inocência que um cara de 19 anos pode desejar!!!