quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Escorpião

Ela era de escorpião. Terceiro decanato de escorpião. Se chamava Josie. Mas até então eu não sabia disso.
Sabia que ela era lânguida feito um lince, tinha longos cabelos negros, pernas compridas, quadris esguios, boca grande, lábios finos, um hipnotizante ar blasé, postura de modelo e olhos de sono que não saíam de cima de mim.
Fiquei pensando que ela tivesse me achado esquisito, que se abismara com minha feiúra, que estivesse tirando sarro. Nada disso.

Ela me queria e como eu não fora capaz de perceber por conta própria, Josie fez com que uma amiga viesse me dizer.
Era a festa de aniversário de um dos meus irmãos mais velhos. Uma festa regada a álcool, drogas e rock'n roll. Estávamos todos loucos, bêbados, surdos pelo Led Zeppelin que arrebentava guitarras e baterias no aparelho de som. Tinha chovido e nós mal percebemos. Tinha irrompido a maior tempestade que o estado de São Paulo sofrera em décadas e as ruas estavam cheias de lama, galhos e troncos de árvores derrubados pelo vento.
A tempestade tinha virado a cidade do avesso e a Josie tinha revirado sua língua na minha boca. Tinha desalinhado meu cabelo, amarrotado minha roupa.
A tempestade tinha encharcado as ruas e a Josie tinha me deixado empapado de suor.
A tempestade tinha lambido as copas das árvores, os telhados das casas e a Josie tinha lambido minha pele e deixado marcas roxas no meu pescoço. Vergões nas minhas costas e saliva nos meus ouvidos.

No dia seguinte, a cidade se recuperava do prejuízo causado pelo tornado e eu tentava me recuperar do furacão que tinha me acometido aquela menina de escorpião.

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