quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Casal Perfeito

Recebi isso pelo Twitter e não pude me furtar a compartilhar com vocês!



segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bufo & Spallanzani - Parte Final

Nosso primeiro encontro, no meu apartamento, foi uma coisa dantesca. Eu estava louco de desejo e ela me olhava com os olhos arregalados, pasma e ofegante. Tive que tirar sua roupa e colocá-la nua na cama, suntuosa, os cabelos negros e a pele branca luzindo, quando então aconteceu essa coisa formidanda: o meu pênis ficou inerte, encolheu. desgraça maior não pode acontecer a um homem, Comecei a sua em pânico, beijando-a, acariciando-a de maneira agoniada que só fazia aumentar a minha impotência. Ela tentou me ajudar, mas também ficou nervosa e estava assustada pois pensava, como me disse depois, que havia alguém escondido embaixo da cama. Levantou-se e foi ao banheiro. Fiquei na cama manuseando o meu pau desesperadamente, inutilmente, um longo tempo, até que comecei a chorar. Imagine um homem gordo e nu chorando numa cama, tentando fazer o seu pau levantar. Afinal limpei os olhos, enfiei-me num robe e fui ver o que ela fazia dentro do banheiro.
Estava sentada na tampa do vaso sanitário, pernas cruzadas, desconsolada, olhando as unhas, meio acorcundada, até uma barriguinha adiposa surgira no seu ventre impoluto; a maquiagem em torno dos olhos derretera, e ela me fitou com um olhar patético. Liguei o gás do aquecedor, talvez pensasse que um banho nos purificaria, nos fizesse esquecer aquele horror, voltasse a encher o meu pênis de sangue. Subitamente o aquecedor explodiu.
Atirei-me sobre ela para protegê-la, caímos ao chão e naquele inferno de fogo e fumaça nossos corpos se conciliaram numa cópula excelsa e delirante. Só à noite percebi que meu corpo estava empolado de queimaduras. Creio que foi nesse dia que me decidi, ao comprovar a superioridade do tesão sobre a dor, a escrever Bufo & Spallanzani.

Trecho do livro Bufo & Spallanzani de Rubem Fonseca

Bufo & Spallanzani - Primeira Parte

"Ela sentou-se para assistir a uma exibição de slides, encostou as costas retas no espaldar da cadeira e cruzou as pernas deixando os joelhos aparecerem. Usava um vestido de seda e o tecido fino delineava a forma atraente de suas coxas. Tive vontade de me ajoelhar a seus pés mas achei melhor uma abordagem convencional. Os slides eram todos quadros de Chagall. 'Você gosta de Chagall?', perguntei na primeira oportunidade. Ela respondeu que sim. 'Essa gente toda voando', eu disse e ela respondeu que Chagall era um artista que acreditava acima de tudo no amor. Na mão esquerda dela, no dedo anelar, havia um anel de brilhantes. Devia ter uns trinta anos de idade e uns cinco de casada, que é quando as mulheres começam a perceber que o casamento é uma coisa opressiva, doentia mesmo, iníqua e estiolante; além das privações sexuais que passam a sofrer, pois os maridos já cansaram delas. Uma mulher dessas é presa fácil, o sonho romântico acabou, restou a desilusão, o tédio, a perturbação moral, a vulnerabilidade. Então aparece um libertino como eu e seduz a pobre mulher. Ali estava uma pessoa que acreditava no amor. 'Que nul ne meure qu'il n'ait aimé', eu disse. O francês pode ser uma língua morta, mas é linda e funciona muito bem com as burguesas. 'Infelizmente o mundo não é como os poetas querem', disse ela. Convidei-a para jantar, ela hesitou e acabou aceitando almoçar comigo. Era a primeira vez que ia a um restaurante com um homem que não fosse o marido.

O marido era um homem de muitas posses e prestígio social. O casamento deles, como disse, chegara àquele ponto em que a rotina criara o tédio e o tédio a apatia e a apatia a ansiedade, depois a incompreensão, a aversão, e por aí afora. Ela tentou reverter esse processo viajando com o marido à Índia, à China, cada vez mais longe, como se os problemas não o acompanhassem. Fez o marido comprar fazenda perto (a outra que possuíam, era no Mato Grosso), deu mamadeira para os cabritos umas três vezes e depois não achou mais graça naquilo. Tentou ter filhos, mas era estéril: dedicou-se à beneficência, entrando para a diretoria de uma associação destinada a recuperar prostitutas e mendigos.

No primeiro dia em que almoçamos juntos ela praticamente nada comeu. Bebeu uma taça de vinho. falamos de livros e ela disse que não gostava de literatura brasileira e admitiu cândidamente que não havia lido nenhum dos meus livros o que destrói a sua teoria, minha querida, de que ela estava deslumbrada pelo escritor. perguntei qual era o autor da sua preferência e ela citou o Moravia. Lera La Vita Interiore e L'amante Infelice, no original, fez questão de dizer. Ter mencionado Moravia deu-me a oportunidade que esperava de falar de sexo. Disse a ela que eu encarava o sexo, na vida e na literatura, da mesma maneira que o Moravia, isto é, algo que não deve ser pervertido pela metáfora, mesmo porque nada há que se lhe assemelhe ou lhe seja análogo. Desenvolvi este raciocínio astuto que desembocou naturalmente no campo das considerações de ordem pessoal. Os velhos e sovados temas da liberdade sexual, da paixão sem possessão, do hedonismo, do direito ao prazer foram espertamente abordados por mim. Eram cinco horas da tarde e continuávamos no restaurante, ambos falando muito, sem parar, creio que houve um único segundo de silêncio entre nós. Lembro-me que, em certo momento, ela me perguntou qual a diferença entre o sexo praticado por duas pessoas que se amam e o realizado por duas pessoas que apenas se desejam. Respondi: 'confiança, as pessoas que se amam sabem que podem confiar no outro'. Para uma mulher casada, que comtempla pela primeira vez a possibilidade de ter uma aventura amorosa, não existe frase mais instigante e tranquilizadora."

Trecho do livro Bufo & Spallanzani de Rubem Fonseca

sábado, 24 de outubro de 2009

Perdidos na Tradução

Acabei de assistir Lost In Translation, o segundo filme da Sofia Coppola, cujo título foi terrivelmente adaptado para o português como "Encontros e desencontros". Eu já tinha começado a assisti-lo milhões de vezes mas, por algum estranho motivo, nunca tinha conseguido ir até o fim. Hoje consegui. E que choque!
Antes da última cena, quando o Bill Murray salta da limusine e corre atrás da Scarlett Johanson pelas ruas de Tóquio... quando eles se reencontram, logo depois de uma despedida fria e desajeitada e, finalmente ele a agarra e beija seus lábios, meu coração parou. Porque eu sabia... eu sei o que é aquilo. Vivi situação semelhante. Sentimento parecido.
Às vezes a gente se sente tão desolado. Tão isolado, mesmo no meio da multidão, tão sozinho, carente e vilipendiado. Às vezes a gente se sente frágil. Tão vazio que deixa uma pessoa absolutamente desconhecida se aproximar e tomar um pedaço do que é nosso. Em troca, a gente quer um pedaço dessa pessoa pra preencher o vazio. A gente sabe que aquilo é passageiro, que muito provavelmente nenhum dos dois torne a se encontrar novamente e isso faz com que a necessidade de levar um pedaço da outra pessoa torne-se ainda mais imperativo.
E daí vem aquele beijo.
Depois de compartilhar momentos, piadas, bebidas, comidas, conselhos, companhia... ainda falta alguma coisa. Falta a sensação de que aquilo possa ser mais do que parece. De que é mais do que realmente é.
Falta o beijo.
Falta provar da pessoa. Saborear uma fração do que ela é. Tocar os lábios nos lábios dela pra ter uma lembrança física, pra guardar aquilo e levar consigo pra casa.

O beijo mesmo, acaba. Acaba e fica ali. A sensação dele some tão logo os corpos se desencostem. Mas a sensação de ter tomado algo, a saciedade de ter dado vazão aos ímpetos, isso te acompanha. Isso te dá a certeza de que nada ficou pra trás. De que nada ficou faltando.
O beijo deixa a certeza de que, mesmo por um breve momento, os dois quiseram a mesma coisa. De que os dois eram iguais.
De que os dois falavam a mesma língua.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Refúgio

Nunca ter feito faculdade era algo que me frustrava um pouco. Todos os meus amigos estavam se formando ou entrando na faculdade, estavam ocupados com provas, trabalhos, TCCs e eu mesmo nunca havia experimentado essa sensação.
Então, quando tomei a decisão de começar a estudar, de ir pra uma escola de design senti que, mesmo já trabalhando com isso há alguns anos, eu finalmente começava a ser um profissional.
Como tinha pouco dinheiro, tive que me virar e pedir ajuda pra custear os estudos e ter conseguido isso, ter levantado uma tremenda grana emprestada me deu a certeza de que as pessoas botavam fé no meu talento e me apoiavam plenamente na minha escolha e na minha decisão.
Exceto por uma pessoa: minha esposa.

Em vez de ficar feliz, em vez de me apoiar e sorrir dizendo que tinha certeza de que isso me faria um profissional mais preparado, uma pessoa melhor, ela teve uma ligeira crise de ciúmes provocada pelo fato de que eu teria de viajar pra São Paulo todos os sábados durante três anos pra ver realizado meus estudos.
Ela sentiu medo de que eu conhecesse pessoas maiores que ela em vez de orgulho pelo meu crescimento. E por mais que eu tivesse o apoio do resto do mundo, a desaprovação dela me desolava.
Quando contei isso pra Gisele, que também era desenhista, tinha sido minha namorada e agora era uma grande amiga, ela ficou tão chocada quanto eu.
Me garantiu apoio total, me declarou orgulho e confessou inveja.
Eu fiquei tão grato que tomei-a nos braços e beijei sua boca como se aquele fosse meu último refúgio.
Depois sorri, virei as costas e voltei pra casa.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O dia do mico

Dizer pra uma mulher que você não quer compromisso, que aquilo é só um caso e que não há disponibilidade pra um namoro é o mesmo que dizer exatamente o contrário disso!
Parece que elas apreciam o desafio de tentar mudar a cabeça do homem. Parece que elas se sentem motivadas a testar seu poder de sedução. Daí sim, fazem questão de tentar te amarrar!

Era véspera do dia das mães e eu tinha conhecido uma guria linda que estudava na mesma escola onde eu tinha estudado. Ela havia me encomendado um retrato com grafite e acabamos fazendo amizade.
Numa tarde, fui com minha mãe até a escola assistir uma peça de teatro que seria encenada pela classe da minha irmã. No fim da apresentação haveria uma homenagem a todas as mães de alunos e seriam distribuídos botões de rosas.
Interessado que eu estava em conseguir daquela guria bem mais que sua amizade, convidei-a pra me acompanhar e nos sentamos na primeira fila. Enquanto assistíamos à peça, trocávamos palavras ao pé do ouvido, carícias discretas e acabamos nos dando as mãos.

Ela era maravilhosa e eu estava completamente entregue. Em transe. Quase em êxtase, quando minha irmã apareceu e me tirou do torpor apaixonado pra dizer, em tom de bronca, que a Jane estava na coxia, aos prantos porque tinha comprado um buquê pra me dar no fim da apresentação e acabara de me ver agarrado à garota ao meu lado.
Fiquei chateado mas (pelo amor de Deus!) eu já tinha explicado que meu negócio com ela era só um caso, que não havia qualquer tipo de compromisso envolvido ali! O que é que a Jane esperava?

Tentei dar o fora do teatro antes que aquilo desse merda mas meu novo caso, tendo escutado minha irmã falar decidiu prostrar-se, segurando-me, só pra ver como a coisa toda ia terminar.
Quando as mulheres resolvem medir força umas com as outras, são sempre os homens quem pagam o pato. E o mico.

Não deu outra! No fim da peça, os alunos saíram entregando rosas pras suas mães e a Jane surgiu - impávida - com um buquê gigantesco nos braços. Ela desfilou por toda a plateia e foi em direção à sua mãe.
Quando eu cogitei respirar aliviado, a guria deu meia volta e veio até onde eu estava, roubou-me um beijo daquele jeito abrupto que só ela sabia fazer e, sob os olhares do teatro lotado, deixou o buquê em minhas mãos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Talita

Se tinha uma coisa que eu detestava era desenhar retratos. Mas naquela época eu não conseguia emprego por causa da proximidade do serviço militar e desenhar retratos era a única forma que eu tinha de tirar alguns trocados.
Uma guria da escola onde eu tinha estudado mostrou pras amigas o retrato a grafite que eu lhe tinha vendido e rapidamente várias outras começaram a me procurar pelo serviço.

A Talita era alguém por quem eu desenharia qualquer coisa de graça. Quando ela me procurou eu não conseguia prestar atenção em qualquer palavra que dissesse. Respondia "Um-hum" e ficava babando azul, hipnotizado por aquele rosto maravilhoso! Os olhos grandes de um verde transparente, a boca fina, rosa e húmida, os dentes claros, perfeitos. A pele branca lisa, fresca exalando o perfume do Óleo de Amêndoas Paixão!
Ficamos amigos imediatamente. No fim da aula eu ia buscá-la e nos sentávamos no canteiro ou na calçada da escola, conversávamos sobre ocultismo, filosofia, sonhos misteriosos, casos antigos, sua família. Eu pegava em suas mãozinhas gorduchas, sentia o perfume de seus cabelos loiros e ondulados, ouvia sua risada irônica, aceitava seus sarros. Ela era incrível e mesmo seu andar desajeitado de gordinha, aquele molejo de pinguim me deixava fascinado.
Eu a queria mas ela era tão especial que, quando acontecesse deveria ser especial também. Deveria ser num momento em que fosse inevitável, nada poderia ser forçado, premeditado, nada poderia ser menos que mágico.

Então, quando a convidei pra me acompanhar na peça de teatro que a classe de minha irmã apresentaria em homenagem às mães, eu não imaginei que seria naquele dia. Quando a Jane veio e provocou toda aquela cena com o buquê eu achei que não seria nunca mais!
Mesmo assim, fiz questão de levá-la até sua casa e acompanhá-la até a porta.
E foi então, sem pensar, sem planejar, só porque o ego dela estava ferido pela investida da outra garota, que eu provei seu beijo. Sob um céu estrelado de primavera, uma lua cheia e prateada, o perfume inebriante do corpo dela... Naquela noite, com uma brisa fria e doce soprando na minha nuca, foi que senti o sabor de língua macia, suave e despudorada da Talita na minha boca pela primeira vez.