terça-feira, 13 de outubro de 2009

Talita

Se tinha uma coisa que eu detestava era desenhar retratos. Mas naquela época eu não conseguia emprego por causa da proximidade do serviço militar e desenhar retratos era a única forma que eu tinha de tirar alguns trocados.
Uma guria da escola onde eu tinha estudado mostrou pras amigas o retrato a grafite que eu lhe tinha vendido e rapidamente várias outras começaram a me procurar pelo serviço.

A Talita era alguém por quem eu desenharia qualquer coisa de graça. Quando ela me procurou eu não conseguia prestar atenção em qualquer palavra que dissesse. Respondia "Um-hum" e ficava babando azul, hipnotizado por aquele rosto maravilhoso! Os olhos grandes de um verde transparente, a boca fina, rosa e húmida, os dentes claros, perfeitos. A pele branca lisa, fresca exalando o perfume do Óleo de Amêndoas Paixão!
Ficamos amigos imediatamente. No fim da aula eu ia buscá-la e nos sentávamos no canteiro ou na calçada da escola, conversávamos sobre ocultismo, filosofia, sonhos misteriosos, casos antigos, sua família. Eu pegava em suas mãozinhas gorduchas, sentia o perfume de seus cabelos loiros e ondulados, ouvia sua risada irônica, aceitava seus sarros. Ela era incrível e mesmo seu andar desajeitado de gordinha, aquele molejo de pinguim me deixava fascinado.
Eu a queria mas ela era tão especial que, quando acontecesse deveria ser especial também. Deveria ser num momento em que fosse inevitável, nada poderia ser forçado, premeditado, nada poderia ser menos que mágico.

Então, quando a convidei pra me acompanhar na peça de teatro que a classe de minha irmã apresentaria em homenagem às mães, eu não imaginei que seria naquele dia. Quando a Jane veio e provocou toda aquela cena com o buquê eu achei que não seria nunca mais!
Mesmo assim, fiz questão de levá-la até sua casa e acompanhá-la até a porta.
E foi então, sem pensar, sem planejar, só porque o ego dela estava ferido pela investida da outra garota, que eu provei seu beijo. Sob um céu estrelado de primavera, uma lua cheia e prateada, o perfume inebriante do corpo dela... Naquela noite, com uma brisa fria e doce soprando na minha nuca, foi que senti o sabor de língua macia, suave e despudorada da Talita na minha boca pela primeira vez.

Um comentário:

as viciadas disse...

ai que fofis.

"Ela era incrível e mesmo seu andar desajeitado de gordinha, aquele molejo de pinguim me deixava fascinado."

Nem precisava ser mais bela, ela cheirava a óleo de amendoas paixão, seu cheiro nostalgicamente favorito [li o post do óleo de amendoas]



Beijone, L.