sábado, 24 de outubro de 2009

Perdidos na Tradução

Acabei de assistir Lost In Translation, o segundo filme da Sofia Coppola, cujo título foi terrivelmente adaptado para o português como "Encontros e desencontros". Eu já tinha começado a assisti-lo milhões de vezes mas, por algum estranho motivo, nunca tinha conseguido ir até o fim. Hoje consegui. E que choque!
Antes da última cena, quando o Bill Murray salta da limusine e corre atrás da Scarlett Johanson pelas ruas de Tóquio... quando eles se reencontram, logo depois de uma despedida fria e desajeitada e, finalmente ele a agarra e beija seus lábios, meu coração parou. Porque eu sabia... eu sei o que é aquilo. Vivi situação semelhante. Sentimento parecido.
Às vezes a gente se sente tão desolado. Tão isolado, mesmo no meio da multidão, tão sozinho, carente e vilipendiado. Às vezes a gente se sente frágil. Tão vazio que deixa uma pessoa absolutamente desconhecida se aproximar e tomar um pedaço do que é nosso. Em troca, a gente quer um pedaço dessa pessoa pra preencher o vazio. A gente sabe que aquilo é passageiro, que muito provavelmente nenhum dos dois torne a se encontrar novamente e isso faz com que a necessidade de levar um pedaço da outra pessoa torne-se ainda mais imperativo.
E daí vem aquele beijo.
Depois de compartilhar momentos, piadas, bebidas, comidas, conselhos, companhia... ainda falta alguma coisa. Falta a sensação de que aquilo possa ser mais do que parece. De que é mais do que realmente é.
Falta o beijo.
Falta provar da pessoa. Saborear uma fração do que ela é. Tocar os lábios nos lábios dela pra ter uma lembrança física, pra guardar aquilo e levar consigo pra casa.

O beijo mesmo, acaba. Acaba e fica ali. A sensação dele some tão logo os corpos se desencostem. Mas a sensação de ter tomado algo, a saciedade de ter dado vazão aos ímpetos, isso te acompanha. Isso te dá a certeza de que nada ficou pra trás. De que nada ficou faltando.
O beijo deixa a certeza de que, mesmo por um breve momento, os dois quiseram a mesma coisa. De que os dois eram iguais.
De que os dois falavam a mesma língua.

Um comentário:

Clara disse...

Preciso ver esse filme, tenho ele aqui em casa mas nunca lembro da existência do coitado...
Enfim, são essas coisas e outras tão diferentes, a que as pessoas normais desse mundo clichê chamam de amor, o que eu acho uma generalização extremamente banalizadora, não se pode achar que toda sensação forte e boa de uma pessoa para a outra tem a mesma origem, e um mesmo nome.
Talvez o amor tal qual é teorizado nem exista realmente.
Gostei muito da forma como você definiu a essa situação em específico.