segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bufo & Spallanzani - Parte Final

Nosso primeiro encontro, no meu apartamento, foi uma coisa dantesca. Eu estava louco de desejo e ela me olhava com os olhos arregalados, pasma e ofegante. Tive que tirar sua roupa e colocá-la nua na cama, suntuosa, os cabelos negros e a pele branca luzindo, quando então aconteceu essa coisa formidanda: o meu pênis ficou inerte, encolheu. desgraça maior não pode acontecer a um homem, Comecei a sua em pânico, beijando-a, acariciando-a de maneira agoniada que só fazia aumentar a minha impotência. Ela tentou me ajudar, mas também ficou nervosa e estava assustada pois pensava, como me disse depois, que havia alguém escondido embaixo da cama. Levantou-se e foi ao banheiro. Fiquei na cama manuseando o meu pau desesperadamente, inutilmente, um longo tempo, até que comecei a chorar. Imagine um homem gordo e nu chorando numa cama, tentando fazer o seu pau levantar. Afinal limpei os olhos, enfiei-me num robe e fui ver o que ela fazia dentro do banheiro.
Estava sentada na tampa do vaso sanitário, pernas cruzadas, desconsolada, olhando as unhas, meio acorcundada, até uma barriguinha adiposa surgira no seu ventre impoluto; a maquiagem em torno dos olhos derretera, e ela me fitou com um olhar patético. Liguei o gás do aquecedor, talvez pensasse que um banho nos purificaria, nos fizesse esquecer aquele horror, voltasse a encher o meu pênis de sangue. Subitamente o aquecedor explodiu.
Atirei-me sobre ela para protegê-la, caímos ao chão e naquele inferno de fogo e fumaça nossos corpos se conciliaram numa cópula excelsa e delirante. Só à noite percebi que meu corpo estava empolado de queimaduras. Creio que foi nesse dia que me decidi, ao comprovar a superioridade do tesão sobre a dor, a escrever Bufo & Spallanzani.

Trecho do livro Bufo & Spallanzani de Rubem Fonseca

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