sábado, 22 de novembro de 2008

Cabelo Vermelho e Meia Arrastão


Do alto de suas convicções e certezas você como macho, sexo forte, dominate da espécie, crê que conhece bem a garota que escolheu pra partilhar consigo o resto de sua vida.Você conhece cada saia, blusinha, cacharrel e calcinha que ela tem no lado dela do guarda-roupas, sabe quais são as bandas de rock que ela curte, qual é seu prato favorito, o medo que ela tem de lagartixa, sabe o período do mês em que fica menstruada e principalmente: conhece cada uma de suas fantasias sexuais e quais são as posições que a fazem gozar mais rápida e intesamente.Você sabe quais os sonhos que ela tem pro futuro, qual é o nome que ela quer dar pro filho que vocês terão um dia, sabe o nome do hidratante que deixa sua pele cheirosa e dorme tranquilo sabendo que aquela pele vai estar sempre ali, colada á sua de noite na cama. Você se apega ao perfume que ela tem nos cabelos e se conforma com o fato de que daqui pra frente aqueles mesmos cabelos, com aquela mesma cor e aquele mesmo perfume vão estar sempre lá, fazendo cócegas no seu rosto quando se deitar.
Mas então, por qualquer motivo que seja, vocês dois acabam se separadando. Cada um vai pra um canto. Você não vai sentir falta de nada disso porque - afinal de contas você é o macho dessa história e foi você quem resolveu terminar tudo. E mesmo que não tenha sido de fato você, essa é a história que será contada aos seus amigos.

Até que um dia vocês se encontram por acaso naquele bar que ela nunca quis ir quando vocês estavam juntos. Ela está com um cara que é mais alto, tem o cabelo comprido, um tipinho estranho de andar e você fica ali, olhando tudo e achando que o cara se parece com você. Mas não parece. Ela se aproxima educada, sorridente, vocês se cumprimentam. Primeiro você estende só a mão, mas então decide dar um beijinho no rosto e fica aquela coisa meio constrangedora, um de mão estendida pro nada, outro de face estendida pra ninguém até que, entre sorrisos amarelos, vocês se acertam e rola o beijinho no rosto. Você sente o cheiro do cabelo dela e não é mais o mesmo. Não é que não pareça ser mais o mesmo. É realmente um outro perfume. Ela mudou de shampoo. Na verdade o penteado mudou, o corte de cabelo mudou e - em casos extremos - até a cor do cabelo mudou. Nessas alturas do campeonato você já está completamente perdido. O que será que passou pela cabeça dela pra fazer essa coisa horrorosa com os cabelos?
Rolam algumas perguntas sem interesse real "Como é que vai?" "Terminou a faculdade?" "E aquela sua tia que tinha varizes?" "Sua mãe, como está?" vocês trocam rapidamente olhares mornos e então cada um volta pra sua mesa, afinal a sua namorada atual já está alí, te olhando com cara de contrariada.
No dia seguinte você resolve dar uma olhada no Facebook dela só pra ver como andam as coisas e descobre que não conhece ninguém de sua lista de amigos, exceto umas quatro ou cinco pessoas em comum. Na maioria gente que você tem na sua lista mas nem tem muito contato. Então vai lendo os dados do profile e vê que ela está ouvindo bandas que você nem imaginava que ela pudesse gostar, lendo livros que não condizem com o intelecto dela, usando palavras que não são de seu vocabulário.
E você se pergunta: "Deus, quem é essa garota?" "Como ela pôde mudar tanto em tão pouco tempo?" "Será que ela sempre foi assim?"
Sempre.
Ela sempre foi assim, você é que não tinha percebido. Tão empenhando em fazer dela a sua companhia, você tentou projetar na garota os seus próprios gostos, tentou fazer ela assistir Heroes enquanto a pegada dela era mais Dexter, tentou empurrar Dire Straits enquanto ela na verdade curtia mais Offspring. Ela te deu uns toques quando mencionou por alto que gostaria de uma pegada mais forte na cama e menos aquele lance romântico de sempre. Quando ela comprou aquela meia arrastão que você achou ridícula. Quado ela falou que estava pensando em pintar o cabelo de vermelho e você a ironizou. Ela te deu o toque aquela noite em que comprou insenso de morango e você dormiu.

Ela tem uma capacidade de se adaptar que você desconhece. Por isso é que ela topou abrir mão de quem gostaria de ser pra ser o que você gostaria que ela fosse. Enquanto a garota acreditava que você pudesse ser o homem da vida dela, se moldou à sua forma pra que você não tivesse medo, nem se sentisse oprimido. Mas quando você decidiu terminar tudo e botá-la pra fora, achando que ela se desfaria em lágrimas por anos a fio, a menina viu alí a chance de ser ela de verdade. Só pra variar. Foi então que ela saiu à noite, de meia arrastão, um perfume novo e os cabelos vermelhos, na companhia de amigas que você nem sabia que existiam (ela deduziu que você não gostaria que ela andasse com companhias daquele tipo, por isso nunca te falou delas) e conheceu aquele cabeludo que gostou dela de cara - justamente por causa do cabelo vermelho e da meia arrastão.

sábado, 15 de novembro de 2008

Eu nunca beijei uma ruiva


Eu nunca beijei uma ruiva. Sou fascinado por elas.
Mas as ruivas naturais, genuínas. Elas têm um ar meio tímido, uma timidez dissimulada talvez. Um jeito de olhar de lado como quem tem tanto a dizer mas não diz. Esconde.
Eu gosto das ruivas. As sardinhas no rosto, os olhos grandes, o sorriso rasgado. Todas as ruivas que eu conheci tinham olhos grandes, sardas e um sorriso rasgado com lábios finos e gengivas à mostra. Adoro as ruivas.
Quando eu tinha 16 anos e estudava o primeiro ano do colegial tinha uma amiga que era ruiva. A típica ruiva. Se chamava Nathália, tinha o cabelo encaracolado e volumoso, sardas que se estendiam até o colo, lábios finos e sempre húmidos, um par de olhos castanhos imensos, peitos fartos e um total desinteresse sexual por mim.
Eu não era exatamente um cara atraente. Era bastante alto e magro, usava óculos de armação grossa na época em que a moda eram armações finas e discretas, tinha aparelho nos dentes, um topete bem anos cinquenta e algumas remanescências das espinhas que me atormentaram a vida uns dois anos antes.
Talvez eu não fosse um cara atraente, mas o desprezo com que a Nathália me tratava era entristecedor.
Minha auto-estima porém, sempre foi das melhores e por mais que ela se esquivasse a cada investida sexual que lhe dava, eu não desistia e buscava sempre novos meios, novas cantadas, novas abordagens.
É claro que não funcionou.
A última tentativa foi numa festa promovida pela turma da minha classe. Todas as sextas-feiras à noite nós cabulávamos aula, escolhíamos a casa de algum dos colegas e íamos pra lá equipados com garrafas de vodka, aparelhos de som, CDs de rock e reagge, algumas dúzias de laranjas e um frango.
As laranjas iam nas vodkas, os CDs no aparelho de som, os meninos nas meninas e o frango ia prum caldo grosso e bem temperado que o Bob sempre fazia pra arrebatar a bebedeira. Diziam que o caldo era muito bom. Eu nunca tomei. Não gosto de frango e depois de ter levado mais um fora da Nathália o que eu queria mesmo era ficar bêbado.

Tanto quanto eu era louco pra levá-la pra cama, ela era louca por um rapazinho meio playboy que também estudava conosco. Nathália se embebedou o suficiente pra superar a timidez das ruivas e criar coragem para tomar a iniciativa de arrebatar o playboy pra si. É claro que ela conseguiu. As ruivas sempre conseguem.
Playboy de sorte.