quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Óleo de Amêndoas Paixão

Das gurias que passaram pela minha vida, nenhuma foi tão responsável pela construção do meu gosto para mulheres quanto a Angélica.
Ela era sobrinha de uma amiga da juventude de minha mãe.
Todo final de ano, quando viajávamos pra cidade em que minha mãe crescera, eu me encontrava com Angélica.

Eu mal sabia escrever e já tinha um tesão por ela. A guria era uma coisinha desengonçada, raquítica, cabeluda e de voz estridente. Mas eu a adorava.

Mais de 8 anos depois eu tinha 14 e minha família se mudou praquela cidade e, depois de muito tempo, reencontrei inesperadamente minha paixonite platônica de infância.
Angélica estava agora com 16 anos. Suas coxas tinham engrossado, os peitos crescido, sua boca tinha tornado-se um pecado carnudo e vermelho, sua voz suave. O cabelo continuava a mesma coisa.
Nos tornamos amigos imediatamente. Ela ia sempre em casa, conversávamos sobre sexo, eu lia meus textos e poemas adolescentóides e ela me falava sobre coisas da vida que eu (submerso em meu mundinho nerd) desconhecia como, por exemplo, o fascinante conceito de "ficar".
Poder beijar e usufruir do corpo de uma pessoa sem maiores compromissos era uma ideia que nunca tinha me ocorrido e que soou linda e mágica. Quase divina! E agora que eu tinha aprendido, tudo o que eu queria era "ficar" com Angélica.
Ela sabia disso. Me seduzia, brincava a respeito, provocava, achava tudo bem quando eu ameaçava roubar-lhe um beijo enquanto dormisse. Mas eu só ameaçava.

Isso não mudou no decorrer dos 18 meses em que moramos na mesma cidade. Angélica foi tornando-se meu modelo de mulher ideal. Eu gostava das roupas que ela vestia, os jeans justos, blusinhas leves e rendadas, batas românticas, aquela imensa cabeleira negra, ondulada e incontrolável, os batons super vermelhos, os olhos grandes, o perfume...

Depois eu me mudei. Cresci. Deixei de ser tão moleque e tão tímido. Numas férias, fui sozinho pra cidade e a primeira pessoa que visitei foi ela: minha musa morena. Minha própria Sônia Braga.
Conversamos por horas a fio sobre milhões de assuntos e quando vez por outra nos tocávamos, brotava uma faísca elétrica que espalhava um desejo absurdo por nossos corpos, arrepiando a pele e deixando a boca cheia de saliva, as pupilas dilatadas...
Quando a avó de Angélica inocentemente me convidou a pernoitar por ali eu não hesitei em aceitar.
Depois do banho, Angélica veio assistir televisão usando um camisetão comprido, desses de flanela e pôs-se a besuntar as coxas e os braços com Óleo de Amêndoas Paixão enquanto ria displicentemente de alguma cena da novela.

Os velhos foram dormir cedo como dormiam (pra nossa sorte) todos os velhos e a madrugada foi só nossa. E foi cheia do perfume inebriante daquele óleo, de respirações ofegantes e línguas molhadas ao pé do ouvido, de arranhões na pele, chupões nos pescoços, virilhas, seios, peito, costas, lingeries semi-transparentes pelo chão, fios de cabelos presos em suor, marcas de dentes nos ombros e felicidade.
A felicidade que só a saciedade de uma fome de anos pode proporcionar.

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Depois disso fui embora. Eu e Angélica nunca mais nos falamos.
Só sei que ela se casou, tem pelo menos um filho e durante anos, muitas das minhas namoradas tiveram de usar Óleo de Amêndoas Paixão.

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