segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Dó não rima com amor

Era preciso muito pouco pra eu ficar apaixonado.
Então apareceu essa menina. Uma roqueira.
Loirinha, simpática, sorridente, bastante sociável, moderna, sexualmente bem resolvida, recém separada e com uma filha de três anos. Achei o máximo!

Tivemos uma transa fantástica, daquelas de filme mela-cueca de Hollywood e eu  a pedi em namoro.

Ela não estava muito afim de me namorar porque - afinal de contas - tinha acabado de se separar e ainda estava meio que apaixonada pelo ex-marido que a havia substituído por outra garota, em outra cidade. Além disso eu estava noivo e ela não queria arcar com o peso de acabar me dando um pé na bunda depois de ter sido a responsável pelo cancelamento do meu casamento que estava marcado pra dalí há três meses. Não que eu tenha percebido isso naquela época. Eu achava que a guria estava tão apaixonada por mim quanto eu estava por ela e acreditava piamente que ela se recusava a me namorar porque tinha medo de se envolver de novo.

Eu achava que aquele "Eu te amo" proferido por ela durante o orgasmo significava mesmo "eu te amo" e não percebi que era só o rugido de satisfação de uma mulher que estava se sentindo mal-amada, entediada e vilipendiada.

Eu fui um canalha em me aproveitar da fragilidade psicológica dela pra conseguir a namorada nos moldes que eu almejava.

Coitada: terminar um casamento com filho e já se ver amarrada a um pisciano grudento não devia mesmo ser a melhor das perspectivas pra uma garota como ela. Mas eu nunca tinha vivido com uma mulher antes (só com garotinhas sem passado, sem trauma e sem graça) e não tinha a menor noção do que tudo aquilo significava de fato.

Assim, eu tanto insisti que ela aluiu. Cancelei meu casamento sem nenhum pesar e assumi um namoro com ela.

A guria até tentou se livrar de mim. Me deu uns perdidos, foi no show de rock de uma banda que eu odiava e declarou com todas as letras que queria ir "solta" pra poder "curtir o som". Tomou um banho demorado, passou maquiagem pesada, calçou umas botas de vinil, encheu os dedos de anéis e saiu, toda cheirosa tentando deixar claro pra mim que eu não era prioridade, que eu não era amado - embora bem quisto.  Ela tentou me afastar. Jogou charme pro ex-marido quando ele veio no domingo visitar a filha, aceitou o presente que ele trouxe e ficou horas batendo papo com a ex-cunhada pelo celular.


Ela tentou deixar claro que eu não era o homem de sua vida, mas as mulheres não são simples. Quando eu estava quase entendendo o recado, pegando minha mala e saindo antes que a minha dignidade fosse demasiadamente manchada ela bloqueou a porta com o corpo, deixou que os olhos se marejassem e pediu que eu não saísse. Ela me beijou com a boca úmida de lágrimas e murmurou que não suportaria ser deixada de novo. Pediu desculpas pelos desmantelos, disse que não era de propósito, que ela estava reaprendendo a se relacionar e que eu era imprescindível nesse processo.

Eu senti mais dó dela que de mim e acabei ficando.

Foi um erro, é claro. Ninguém é digno de dó.

Um comentário:

Anônimo disse...

O que começa errado, termina errado!!!!
Dó é um sentimento muito pequeno pra três anos e meio. Eu diria que foi mais um misto de carência, curiosidade e medo. Dó nos faz tomar atitudes boas, mas o medo, a covardia de enfrentar a vida como ela é só, esse sim nos faz ótimos atores!!!!