Tivemos uma transa fantástica, daquelas de filme mela-cueca de Hollywood e eu a pedi em namoro.
Ela não estava muito afim de me namorar porque - afinal de contas - tinha acabado de se separar e ainda estava meio que apaixonada pelo ex-marido que a havia substituído por outra garota, em outra cidade. Além disso eu estava noivo e ela não queria arcar com o peso de acabar me dando um pé na bunda depois de ter sido a responsável pelo cancelamento do meu casamento que estava marcado pra dalí há três meses. Não que eu tenha percebido isso naquela época. Eu achava que a guria estava tão apaixonada por mim quanto eu estava por ela e acreditava piamente que ela se recusava a me namorar porque tinha medo de se envolver de novo.
Eu achava que aquele "Eu te amo" proferido por ela durante o orgasmo significava mesmo "eu te amo" e não percebi que era só o rugido de satisfação de uma mulher que estava se sentindo mal-amada, entediada e vilipendiada.
Eu fui um canalha em me aproveitar da fragilidade psicológica dela pra conseguir a namorada nos moldes que eu almejava.
Coitada: terminar um casamento com filho e já se ver amarrada a um pisciano grudento não devia mesmo ser a melhor das perspectivas pra uma garota como ela. Mas eu nunca tinha vivido com uma mulher antes (só com garotinhas sem passado, sem trauma e sem graça) e não tinha a menor noção do que tudo aquilo significava de fato.
Assim, eu tanto insisti que ela aluiu. Cancelei meu casamento sem nenhum pesar e assumi um namoro com ela.
A guria até tentou se livrar de mim. Me deu uns perdidos, foi no show de rock de uma banda que eu odiava e declarou com todas as letras que queria ir "solta" pra poder "curtir o som". Tomou um banho demorado, passou maquiagem pesada, calçou umas botas de vinil, encheu os dedos de anéis e saiu, toda cheirosa tentando deixar claro pra mim que eu não era prioridade, que eu não era amado - embora bem quisto. Ela tentou me afastar. Jogou charme pro ex-marido quando ele veio no domingo visitar a filha, aceitou o presente que ele trouxe e ficou horas batendo papo com a ex-cunhada pelo celular.
Ela tentou deixar claro que eu não era o homem de sua vida, mas as mulheres não são simples. Quando eu estava quase entendendo o recado, pegando minha mala e saindo antes que a minha dignidade fosse demasiadamente manchada ela bloqueou a porta com o corpo, deixou que os olhos se marejassem e pediu que eu não saísse. Ela me beijou com a boca úmida de lágrimas e murmurou que não suportaria ser deixada de novo. Pediu desculpas pelos desmantelos, disse que não era de propósito, que ela estava reaprendendo a se relacionar e que eu era imprescindível nesse processo.
Eu senti mais dó dela que de mim e acabei ficando.
Foi um erro, é claro. Ninguém é digno de dó.
Um comentário:
O que começa errado, termina errado!!!!
Dó é um sentimento muito pequeno pra três anos e meio. Eu diria que foi mais um misto de carência, curiosidade e medo. Dó nos faz tomar atitudes boas, mas o medo, a covardia de enfrentar a vida como ela é só, esse sim nos faz ótimos atores!!!!
Postar um comentário