terça-feira, 18 de agosto de 2009

Fazendinha

Quando eu morava no sítio uma das coisas de que mais gostava era brincar de fazendinha!
Eu escolhia um canto qualquer do quintal e ali erigia a miniatura de um latifúndio: construía a casa sede em papelão, montava o curral com varetas, cavava um poço, fazia um mata-burros, estendia as cercas usando galhos e barbantes de náilon ou algodão, pavimentava os acessos aos pastos... cheio de prazer e meticulosidade eu planejava o funcionamento de tudo, transpunha as possíveis dificuldades que o terreno escolhido pro empreendimento me propunha e perdia ali tardes e mais tardes.
Levava uma semana ou mais até que tudo estivesse perfeitamente consolidado e pronto pra funcionar. Neste momento eu abandonava tudo, escolhia outro canto do quintal e começava a erguer outra fazendinha, mais complexa, maior e mais sofisticada que a primeira.
A graça era construir.
Depois de pronta, a fazendinha de brinquedo não oferecia qualquer desafio. Não tinha mais encantos, não tinha mais problemas a resolver. Tudo funcionava perfeitamente.

Quando eu cresci e comecei a namorar a coisa continuou mais ou menos do mesmo jeito. Mas em vez de fazendinhas eu construía relações: escolhia uma menina, me fazia ser conhecido por ela, trabalhava pra criar empatia, conquistava sua amizade, depois seu desejo e por fim seu coração. Uma vez que a moça estava entregue, conquistada e apaixonada, perdia subitamente o encanto. Era hora de partir pra próxima!

Com o tempo, em vez de conquistas eu fui colecionando desafetos. Percebi que havia alguma coisa errada no modo com eu fazia as coisas. As construções eram erigidas mas ruíam quando eu começava a erguer outros alicerces.
Foi então que eu percebi que o processo de conquista não acaba quando a pessoa se apaixona por você. O processo não acaba nunca!
Conquistar o coração de uma pessoa envolve cuidado e manutenção constantes. Cada dia é o momento de erguer um pavimento ou consertar uma rachadura, refazer a pintura que desbotou, tratar as possíveis infiltrações... zelar pra que aquilo não se desfaça como os prédios do juiz Lalau. Lembram-se dele?

Uma relação começa todo dia. A cada dia que se beija, que se diz bom dia, toma-se o café juntos, discute-se as despesas do mês, compra-se a cortina nova, viaja-se pra ver os pais, reserva-se um chalé em Campos do Jordão, penteia-se os cabelos, aluga-se um DVD, empresta-se um dinheiro, conta-se um segredo, escreve-se um bilhete no guardanapo, esconde-se um presente no fundo do guarda-roupas, escolhe-se um brinco.
Uma relação começa todo dia quando você acorda irritado com o zunido cricri do despertador, abre os olhos com dificuldade e vê o rosto dela afundado no travesseiro fofo, com os cabelos pretos cobrindo metade do rosto e ela te sorri, com os olhos inchados e diz: "Eu amo você."

Um comentário:

Unknown disse...

lindo texto... a teoria é realmente apaixonante né? Resta-nos sonhar rs

Obrigada por ter passado lá no Bebendo... só não entendi o comentário kkkk desenha?

Beijo e parabéns, estou lendo todo o blog!