sexta-feira, 17 de abril de 2009

Todo fim é um começo

Então, um dia, eu saio do banho já de pijama, com os cabelos ainda pingando e vejo um papel cor-de-rosa dobrado, escrito na frente e no verso, deixado no meu lado da cama.
Ela estava na cozinha preparando a mamadeira da filha dela.
Sentei e li só porque nós tínhamos desde o começo, o costume de deixar bilhetes de amor um pro outro.
Não era um bilhete de amor.

Ela reclamava que eu vinha sendo muito rude com sua filha, dizia que sua cabeça andava confusa e descontente com tudo, que todo o tempo que eu levava trabalhando e estudando estava fazendo com que ela se sentisse vilipendiada e mais uma porção de etceteras. Concluía pedindo que eu tivesse a bondade de ir embora. Da casa que eu tinha ajudado a escolher e reformar. De sua vida.

Não lembro o que eu falei quando ela veio pro quarto e viu que eu já tinha lido o bilhete. Não lembro o que ela respondeu. Lembro de ter jogado a aliança nela, de ter desejado que aquilo não estivesse acontecendo, de ter dado um soco na parede, explicado que o soco tinha sido na parede pra não ser em seu rosto, vestido uma calça jeans e uma camisa azul que ela odiava e de ter ido à pé até o centro, entrado num bar e tomado, sozinho, algumas cervejas enquanto pensava no que faria da minha vida dali pra frente, já que os últimos dois anos tinham sido gastos em prol daquela casa, daquela família e do bem estar daquela mulher.

Com meu futuro recém-replanejado, voltei pra casa e dormi no chão da sala com o gato. No dia seguinte voltei pra casa da minha mãe. Fiquei por lá 5 meses. O tempo necessário até conseguir outra casa pra alugar, comprar a mobília e me instalar.

Quando lembro disso sinto vergonha por ter sido tão emocional, vergonha por ter aceitado ela e a filha de volta depois de alguns meses, mas também sinto que foi nessa ocasião, enquanto eu tomava cerveja, que eu aprendi que na vida as coisas estão sempre recomeçando.

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