sexta-feira, 10 de abril de 2009

Punheta

"Sinceramente eu ando preferindo punheta."

Foi só quando eu disse isso que me toquei que tinha acabado.
Eu estava com uns amigos numa mesa de boteco falando sobre mulheres, sobre nossas mulheres e sobre nossos relacionamentos com elas.
Eu vinha arrastando aquela situação por muito tempo. A gente simplesmente se apega àquela condição. Se apega à relação mais até do que se apega à pessoa.
A pessoa você quer ver longe. Fica rezando pra que ela demore a voltar da visita na casa da irmã, fica torcendo pra ter trabalho que te faça ficar até depois do expediente e, se não tem, vai pra um boteco com os amigos pra dar tempo de ela dormir e você chegar sem precisar ver ninguém.
Mas por algum motivo o coração se aperta quando você pensa em deixar tudo. Em simplesmente arranjar outra casa pra alugar, pegar tuas coisas, o gato que ela te deu e se mandar. Você se acostuma a cozinhar pra alguém, a reclamar dos gastos, pedir opinião sobre qual sapato usar naquele evento, contar a última merda que um cliente te pediu pra fazer, dar um beijinho no rosto antes de sair pro trabalho... e daí você vai tocando. Vai punhetando aquela relação que já não te traz mais nada e não tem nenhuma chance de trazer.
Mesmo que nada mais te dê tesão, mesmo que não haja mais novidade e você sinta que só está engordando no sofá e esperando o tempo passar o mais depressa possível pra chegar enfim o dia glorioso da sua morte.
Quanto mais tempo passa, mais difícil fica a convivência e mais difícil fica se livrar da convivência.
Mas quando eu disse aquela frase eu vi que daquele mato não sairia mais coelho. Que a coisa mais interessante que poderia acontecer na minha vida era uma úlcera nervosa. E isso certamente traria mais gastos.

Juntei minhas coisas e vim pra São Paulo.

3 comentários:

Braga disse...

gradicido, quirido.

JAIRCLOPES disse...

Não sei você percebeu, teus textos retratam o processo de aprendizagem pelo qual você passa, uma espécie de mudança de nível do videogame. Cada passo te dá mais satisfação, mas torna as coisas mais difíceis dalí para frente. A vida é um videogame que você não escolheu jogar, não conhece as regras mas é obrigado a alcançar outros níveis sempre, sob o risco de: "sorry, game over".

Jerry Guimarães disse...

Cirúrgico.