Situação bastante comum. Um relacionamento longo recém terminado. Sem brigas, sem discussão Apenas terminado. Provavelmente porque uma das partes não ama, não se identifica mais com a outra.
Num relacionamento maduro, mesmo que alguém esteja ferido, mesmo que se sinta abandonado, não há porque não continuar amigos. Alguns almoços, algumas trocas de favores e telefonemas.
Num desses telefonemas ela contava sobre os incidentes do trabalho, sobre problemas com os quais se confrontara, sobre a falta de dinheiro, etc.
Ela falava e ele ouvia atento, concordando com algumas coisas, discordando de outras, oferecendo pequenos conselhos. Sendo maduro.
Mas de repente, na distração da conversa, no ritmo do bate-papo, em meio às amenidades, totalmente sem querer ele diz, não o nome dela mas o apelido carinhoso pelo qual se tratavam antes do fim do namoro.
Leva-se alguns segundos pra perceber o que aconteceu.
Silêncio.
Os dois não sabem o que dizer, não sabem o que justificar. É um equívoco comum mas totalmente desconcertante.
De repente é como se não tivesse acabado. Como se a relação prosseguisse, como se os laços amorosos ainda gozassem de ternura, como se aquele respeito mútuo, aquele afeto pudesse reacender a chama, retroceder o tempo pra antes das coisas se tornarem cansativas, pra quando se podia e queria compartilhar mais que amenidades cotidianas.
Mas não se pode, é claro, e todo mundo sabe disso. Sabe. Mas não aceita. Maturidade não conversa com amor. Racionalidade não tem nada a ver com os sentimentos.
Não existe um relacionamento maduro quando é um relacionamento de amor. E não existe um fim isento de sentimentos numa relação dessa natureza. O que existe é a vontade maquiada de continuar. De ainda ter alguma coisa daquela pessoa, de ter a chance de manter algo vivo. De manter alguma proximidade. De saciar - ainda que superficialmente - a necessidade da correspondência afetiva do outro.
E então, numa hora dessas, o que resta é reatar os laços de forma efetiva e completa ou - se uma das partes acredita mesmo que não haja possibilidades de que isso aconteça - não telefonar nunca mais.
O único jeito de terminar um relacionamento amoroso de forma realmente madura, é desatar todos os laços. Sem ternura, sem amenidades, sem amizades depois.
Um comentário:
Caralho, era algo que eu realmente precisava ler.
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