terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lie to Me

Havíamos tido uma grande discussão. Como várias que vieram antes e várias que vieram depois. Mas nessa em específico eu estava tremendamente irritado e ofendido com a tentativa que ela tinha feito de mentir pra mim.
Nem era uma grande mentira. Mas eu não tolero, é meu calcanhar de Aquiles. A simples idéia de ter alguém que possa querer me passar pra trás, me fazer de bobo, ludibriar ou omitir algum fato importante me tira completamente do sério. Desde criança.

Até por conta disso - e usando o pretexto da minha pretensão de me formar em psicologia - é que na adolescência me entupi de literatura e reportagens discorrendo e estudando sobre a mentira.

Eu sabia identificar uma mentira. E não gostava.

Então, naquela discussão, durante minha cólera eu bradei: "Não tenta mentir pra mim. Não tenta me enganar. Você não consegue. Pára de tentar competir e simplesmente seja franca comigo da próxima vez."
Embora nervosíssimo, eu não tinha qualquer intenção de ofendê-la. Queria convencê-la que a verdade era o melhor caminho. O único jeito de eu ser capaz de respeitá-la e conviver com ela. O único jeito daquela relação funcionar.
Mas ela era - lógico - tão orgulhosa quanto eu e tomou aquela frase como uma afronta, como um desafio. Se eu tinha sentenciado que ela não era capaz de me enganar, ela iria (desse dia em diante) fazer de tudo pra me mostrar que eu estava errado. O tipo de coisa que acontece amiúde em relacionamentos juvenis e doentios.

Num dos vários finais de semana que passávamos na minha casa, entrei de repente no quarto, vindo de qualquer lugar e a guria se assustou.
Ela estava usando meu computador e vi que - no susto - minimizou rapidamente uma janela qualquer.
Sorrindo, perguntei o que acontecia e ela respondeu que conversava com um amigo.
Pedi que abrisse o programa e me mostrasse a foto do amigo. Era alguém que eu não conhecia e, pelo modo como a janela estava disposta dava pra ver a foto do rapaz e uma resposta dela: "Que bom. Fico mais tranquila com isso."
Perguntei com o que ela "ficava mais tranquila" e a resposta foi uma história a respeito de um quiproquó qualquer envolvendo um mal entendido entre uma amiga sua e o rapaz da conversa. Ela explicou que estava intermediando a resolução do problema e que agora, finalmente, tudo se resolvera.

Mentira. De novo.

Insisti pra que dissesse a verdade e ela insistiu que a verdade era aquela.

Durante a semana, pedi pra que um amigo que entendia de informática me instalasse no computador um programa espião. Depois de uma semana do programa instalado, interceptei outra mensagem pro mesmo rapaz na qual ela contava que eu quase a tinha flagrado durante a conversa. O rapaz perguntou se tinha havido algum problema e ela explicou que não. Que tinha me inventado um desculpa qualquer e tudo tinha terminado bem.
Imprimi a mensagem, entreguei-lhe o papel, sentei a seu lado e pedi pra que - agora - me dissesse a verdade.
Assustada, a garota contou outra história. Disse que alguns meses antes, logo depois de uma briga nossa, ela tinha ido a um bar com a amiga. Que tinha encontrado este rapaz (um colega de longa data) e que tinha flertado com ele. Ela explicou que tomou um fora e que isso a tinha feito sentir muita vergonha. E concluiu dizendo que naquela conversa em que eu tinha pedido pra ver a foto do rapaz, ela estava justamente se desculpando por ter sido tão impetuosa e esclarecendo que a situação a havia constrangido.

Dessa vez era verdade.
Levantei-me agradecendo pela franqueza e avisei que, mesmo que essa história fosse verdadeira, a anterior tinha sido mentira e por isso eu gostaria que ela fosse embora e me esquecesse.
A menina chorou. Pediu perdão. Implorou pra ficar. Justificou que não soubera como agir, que sentira medo dos meus ciúmes, da minha represália e que por isso tinha mentido. Jurou amor. Jurou que isso não se repetiria e todo tipo de balela que é comum em situações como essa.

Não consenti - claro. Coloquei numa sacola algumas roupas dela que ficavam em casa e mandei-a embora.

(Semanas depois recebi-a de volta. Mas isso é outra história.)

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