segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Noites como esta

Em noites como esta eu me lembro dela.
Seu sorriso era um feixe radiante de luz. Sua voz era doce, frágil e dengosa, me pedindo um abraço, implorando o cafuné que eu lhe dava displicentemente.
Mesmo nos dias mais quentes do cerrado ela estava sempre fresca, sempre rescendendo a banho. A pele branca, frágil, leve.
Eu lhe contava do meu dia, reclamava dos problemas, descrevia minhas idéias mirabolantes, narrava as peripécias que tinha com minha namorada e ela me ouvia sorrindo, me olhando com os mesmos olhos de ternura que dispensava à sua gata cinza, de quem eu tinha um ciúme mortal.
Eu falava e ela me olhava, deitada a meu lado, com a cabeça apoiada nas mãos deixando eu brincar com seus seios.
Quando ela discordava, ariana que era, não mudava de opinião. Pedia que eu desistisse, dizia que eu nunca a convenceria.
Ela adorava filmes de kung-fu e detestava ficção científica.
Ela era duas semanas mais nova que eu e acreditávamos ser almas-gêmeas.
Compramos em sociedade nossos primeiros livros e sonhávamos com a biblioteca imensa que teríamos em casa.
Ela me dava presentes que eu odiava e eu lhe fazia macarronadas.
Eu espantava seus namorados e ela não tentava me impedir.
Nós assistíamos cinco filmes todos os sábados e no víamos todos os dias, nem que fosse por cinco minutos. Nunca faltava assunto.
De noite eu voltava pra casa e me deitava pra dormir imaginando-a do meu lado.

Nunca aconteceu.
A vida nos afastou. Eu nos afastei. Ela me afastou.
Mas em noites como esta, quando eu deito, imagino a carícia doce da melhor amiga que já tive. E me sinto grato por tê-la tido durante aqueles cincos anos da minha adolescência.

Só em noites como esta.

Um comentário:

Clara disse...

amor é um bicho muito estranho