segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quando você estava dormindo

Eram quase três da manhã, eu tinha ficado no computador trabalhando num freela até o limite das minhas forças e ela já estava dormindo há umas boas horas.
Sentei na beirada da cama com cuidado pra não acordá-la e fiquei namorando seu rosto sereno, pacífico, incólume e alvo, repousado ali no seu travesseiro favorito.
Os cabelos finos e dourados espalhados sobre seu rosto, sua boca entreaberta e a respiração cândida, suave.
Lembrei das últimas discussões, dos absurdos que tínhamos falado um pro outro, das ofensas trocadas, das farpas atiradas, das verdades incovenientes.
Lembrei do "Sábado Dourado", da ocasião em que eu quis ir embora e ela não deixou, da noite em que ela me expulsou de casa, da noite em que a aceitei de volta - dessa vez - na minha casa. Lembrei da última noite em que havíamos feito amor.

Acariciei sua nuca suavemente pensando nas nossas discussões sobre dinheiro, de quando ela reclamou minha ausência dizendo que eu vinha trabalhando demais, de quando ela reclamou que eu vinha bebendo demais, de quando ela confessou pra irmã mais velha que não aguentava mais tanta bebedeira.
Pensei na noite em que enchi a cara de whisky e fui escondido pro puteiro, de quando ela foi escondido pro show do Pearl-Jam em São Paulo dizendo que ia visitar nossa amiga, lembrei de quando ela fez aquela tatuagem que eu tinha proibido que ela fizesse.

Então me curvei, beijei-lhe o pescoço perfumoso, brinquei com o lóbulo de sua orelha, acariciei seu queixo e lhe sussurrei ao pé do ouvido: "Eu te amo. Quando você está dormindo."

2 comentários:

Coyote Voadoro, vulgo Mars Lima disse...

porque é tão mais fácil amar unilateralmente ? :/

Castro Lisboa disse...

Risos, suavemente canalha!
Que amor é esse que supera tantas mentiras, tantas maldades e tantos desencontros? É incrível...
O pior é ler e só pensar numa única pessoa também dormindo e perceber que já a perdoou pelos crimes mais imperdoáveis e que o contrário também já se passou.