sábado, 30 de janeiro de 2010

O Beijo

Ele estava ali, dançando entretido, quando percebeu que a guria olhava em sua direção.
Ninguém costumava flertar com ele, então virou-se, deu de ombros (provavelmente ela estava olhando pra outra pessoa) e continuou dançando timidamente, o copo de plástico com cerveja quente na mão.
Mas a menina não lhe saiu mais da cabeça. Um tempo depois, deu uma olhada, assim, meio de rabo de olho, tentando não ser percebido e constatou que a guria ainda olhava pra ele. Deu uma conferida à sua volta, procurando outros caras pra quem ela pudesse estar olhando, mas só havia um casal de gays beijando-se encostados na parede, um grupo de meninas dançando numa rodinha e uns cabeludos bem esquisitos batendo cabeça.
Bem. Se ela não estivesse olhando pra ele, só poderia estar olhando pra algum dos cabeludos e, ao pensar nisso, julgou-se mais atraente que seus concorrentes e começou a cogitar seriamente a hipótese de que os olhares eram mesmo pra ele.

Tão rápido quando lhe permitia a timidez, foi até o bar, comprou outra cerveja e aproximou-se da menina. Sua posição do bar em relação à menina era mais favorável do que o lugar onde estava anteriormente. Ali, ela não poderia vê-lo chegar até que estivesse bem próximo dela. No caso de ganhar um fora de cara, bastava dar meia-volta, fingir que ia no banheiro e seus amigos dificilmente perceberiam que ele acabara de entrar pelo cano. Pior do que tomar um fora é tomar um fora tendo seus amigos como testemunha.

Ele chegou, tocou no ombro da guria, ela virou em sua direção já sorrindo, ele lhe ofereceu cerveja, ela aceitou e começaram a conversar. Logo estavam dançando timidamente e foi da garota a providência de aproximar-se cada vez mais até que seu corpo tocasse completamente o dele.
Usando o álibi de que a pista de dança a essas alturas tocava The Cure e estava lotada, ele tratou de puxá-la para ainda mais perto de si e, quando as luzes baixaram um pouco, corajosamente abaixou seu rosto até a altura do rosto da menina e perguntou-lhe ao pé do ouvido "posso te beijar?".

A menina - furiosa - se afastou, pediu licença, resmungou qualquer coisa sobre ir ao banheiro e nunca mais apareceu.

5 comentários:

Fabio Hamaya disse...

no fim das contas, a ação em si é muito mais simples do que parece ser.

Clara disse...

faz sentido... (?)

Rodrigo Garcia disse...

Concordo com Hamaya e devo confessar, demorei um bocado pra entender essa coisa tão simples...

Lívia disse...

faria o mesmo.

Bichim Green disse...

Eu arrotaria! As pessoas realmente tem que falar!