sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O fantasma


Quando você divide sua vida com alguém, quando divide seu teto, seus dias, quando você divide sua cama e depois – por qualquer motivo e de qualquer forma – aquilo acaba, é meio como morrer.

De repente você está sozinho de novo. De repente você volta a ser um indivíduo e deixa de ser a entidade de um casal.

E de repente você não sabe mais quais de seus pensamentos são de fato uma opinião sua e quais são reflexos da outra pessoa.
Você escuta sua música favorita daquela banda que te acompanha há anos, mas depois de ter tocado tantas vezes essa mesma música para a outra pessoa, tornou-se impossível desassociar uma da outra.
Você vê nas prateleiras da locadora os filmes que ela adorava e você detestava e sente um vazio áspero, estranho, por não ter mais a chance de implicar com aqueles filmes.
Você vai ao mercado e quando chega em casa, tira da sacola espantado, atônito e triste, aquele item que a outra pessoa sempre te pedia pra comprar. E mesmo que você não goste, agora vai ter de consumir antes que vença o prazo de validade. Só pra não desperdiçar dinheiro.
Você, no meio de uma conversa boba com os amigos percebe-se o maior entendedor de um assunto que não lhe diz nada, que não tem nada a ver com as coisas que você é e gosta, porque aprendeu tudo a respeito daquilo ouvindo ela falar.
Você vai às festas que a outra pessoa gostava de freqüentar e que você acabou acostumando-se a gostar por causa dela e – lá dentro – questiona-se porque afinal está ali e não em outro lugar qualquer.

Mas é o costume. O hábito adquirido. Como o cavalo ensinado que, uma vez arreado faz automaticamente o mesmo caminho. Como o fantasma viciado. Como alguém que – de tão acostumado com a vida – simplesmente esquece que já morreu.

Um comentário:

Anônimo disse...

dificil deixar os fantasmas pra trás? :/