quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

"Obrigado!"


Outro dia, por acaso, acabei escutando sem querer aquela música antiga da qual você começou a gostar a pouco tempo e senti mágoa por saber que nunca mais ia escutar as canções sessentistas que você gosta.
Um tempo depois vi uma menina na rua, usando uma camiseta preta e puída de banda e fiquei triste por lembrar do jeitinho autêntico mas de gosto duvidoso como você se vestia.
Me convidaram pra ir naquele café do centro da cidade que você adorava e lembrei dos bate-papos, dos seus planos pueris pro futuro e foi doloroso constatar que eu nunca teria outra chance de sentir ternura e empolgação pela sua juventude.

Outro dia vi o flyer de uma casa qualquer da Augusta e foi desolador pensar que já estivemos juntos e que bebemos juntos e dançamos juntos na maioria delas. Foi ainda mais desolador porque a moça na foto do flyer tinha os peitões grandes e meio caídos como os seus e me senti vazio pensando que meu corpo jamais voltaria a te preencher.
Eu lembrei das noites de loucura, das drogas, dos beijos, das transas nos banheiros, dos encontros insólitos com pessoas estranhas, da tatuagem que fizemos com nossos nomes, dos porres homéricos, dos dias amanhecendo através da janela e dos pães de queijo matinais.

E eu fiquei triste. E a tristeza virou depressão.
E na depressão eu pensei em todas as brigas, em todas as babaquices que dissemos um pro outro. No quanto eu me senti sozinho estando a seu lado, porque você era nova demais pra perceber o tipo de carinho que eu precisava. E pensei que talvez eu tivesse sido velho demais pra perceber o tipo de carinho que você precisava.
Lembrei das cenas de ciúmes, algumas engraçadas, outras ridículas, outras deprimentes. Pensei em todas as coisas que você me escondia, nas pequenas mentiras que eu deixei passar esperando que um dia você percebesse que eu era maior que aquilo, que não havia motivo pra mentir. Pensei em todas as mágoas que a sua superficialidade sentimental me provocaram e que você nunca saberia porque era inapta demais pra enxergar. E pensei em todas as vezes que eu pude ter te vilipendiado sem perceber porque estava focado demais nos detalhes, nas coisas miúdas, nas filosofias e significados ocultos que talvez nem existissem.
Eu me senti traído por ter dedicado tanto tempo e carinho, por ter investido tanto capital emocional e ainda assim não ter tido forças pra fazer nada quando a relação começou a ir à falência de forma tão boba e infantil.
E apesar de todo o desencontro, de todo erro, senti medo de jamais voltar a encontrar quem me correspondesse tão bem na cama ou quem fosse capaz de intrigar tanto e atiçar tanto minha curiosidade e meus ímpetos paternos.

Eu fiquei triste. Por muito tempo.
Até finalmente perceber que não havia motivos pra ficar triste. Que apesar de tudo o que ficou faltando, a gente tentou com o que tinha. A gente fez o que era possível fazer, dadas as circunstâncias e as limitações de cada um. Que o amor acabou mas que, antes disso ele existiu e foi forte, foi intenso, foi extremo. E se esgotou. 
Rápido como tudo o que é intenso. Mas foi ótimo justamente por ter sido assim. Justamente por não ter tido barreiras. Por não ter sido em vão.
Foi só então que eu parei de sentir tristeza e comecei a sentir gratidão. Por tudo o que foi. Mas principalmente por ter sido. Justamente por esse amor ter existido, por eu ter tido a chance de vive-lo e por poder contar essa história.
Senti alegria pelas boas e más lembranças. Por ter tido coragem de me meter numa relação que desde o início dava indícios de ser problemática. Por ter tido esperança de superar os problemas. Por ter usado todo o conhecimento que eu tinha pra resolver esses problemas. Ainda que não tenha sido suficiente.

E então eu sorri. Pleno, satisfeito e realizado. 
Sorri torcendo pra que você possa ser feliz.
Sorri sabendo que eu também vou voltar a ser feliz. Ou que vou morrer tentando. 
Mas mais do que isso, sorri te dizendo “Obrigado!” por dentro.

Um comentário:

Anônimo disse...
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