terça-feira, 27 de novembro de 2012

Escola de Canalhas - Parte 2



A verdade é que eu não passava de um moleque. Um guri de vinte e poucos anos, babaca como todo mundo de vinte, vinte e poucos anos de idade, que acha que o tempo nunca vai passar, que as coisas nunca vão mudar, que nunca vai ser tarde demais.
Eu era um imberbe arrogante e ela sabia. Ela tinha a perfeita noção da minha imaturidade, embora me amasse francamente.
Apesar disso (ou justamente por isso) talvez ela se sentisse insegura.  Talvez o fato de ela ser mais velha, mais vivida, mais calejada por relações anteriores e por um casamento que tinha durado mais que o dobro do meu ela percebesse os pontos fracos, as falhas, os buracos daquela relação. Talvez, mesmo querendo que aquilo durasse, que aquilo vingasse - tanto quanto eu queria - ela não fosse capaz de acreditar plenamente no sucesso de nós dois como um casal.
Porque ela via além.
E certa vez, enquanto conversávamos sobre qualquer coisa, de noite, juntinhos, deitados lado a lado na cama, ela disse num tom perfeitamente natural, sem medo, sem rancor, sem tristeza “Você vai se cansar de mim.”
Eu me senti ofendido. Parecia que ela insinuava que eu não era maduro, que eu não estava pronto o suficiente pra aquilo e retruquei “Nunca!” E ela continuou dizendo “Vai sim. Você é jovem, acabou de se mudar pra uma cidade grande, cheia de gente e de encantos, cheia de novidades. Uma hora você vai começar a desejar tudo o que sua vida nova tem a oferecer, agora que você não é mais casado, não tem mais obrigações com a filha da sua ex... e daí você vai me deixar.”

Eu não lembro o que respondi, mas lembro de ter respondido e de ter ficado intrigado porque, embora eu fizesse questão de negar, embora eu desejasse veementemente que ela estivesse errada, aquilo fazia muito sentido. Era muito verdadeiro. “Improvável”, pensei, “mas verdadeiro.”

E embora isso tenha acontecido muito, mas muito antes de eu ter querido terminar o namoro, fico me perguntando se ela tinha mesmo razão e acabou prevendo o que aconteceria no futuro ou se, por outro lado, o fato de ter dito aquilo acabou por plantar o verme da dúvida no meu coração?

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