sábado, 10 de março de 2012

Novo demais


Quando eu tinha 18 anos já era noivo e estava de casamento marcado pra dali uns meses. Muitos meses, mas ainda assim, meses.
É lógico que meus pais, mesmo chocados por acharem que eu não tinha idade suficiente pra isso, apoiavam minha decisão. Outros membros da família, agregados e  amigos estavam somente na condição do choque e não na do apoio.

Um dia fui visitar uma amiga da minha família, uma mulher por quem eu tinha muito respeito e uma admiração quase filial.
Não lembro como o assunto veio à tona mas falamos sobre a eminência do meu matrimônio e ela me deu alguns conselhos.

Contou que tinha se casado aos 17 anos e que naquela época, como hoje, amava muito o marido. Disse que nunca tinha se arrependido de nada com relação ao casamento, que lhe trazia felicidade e lhe dera três lindas filhas. Mas disse que, no entanto, ressentia-se um pouco por não ter podido namorar mais tempo. Conhecer outras pessoas além do primeiro e único namorado com quem tinha casado. Ter histórias de vida pra contar que não tivessem sido sempre ao lado daquele mesmo homem.

Na época eu discordei. E discordo ainda hoje.
As pessoas frequentemente repetem pra uma série de coisas o argumento de que se é novo demais.
Novo demais pra morrer, novo demais pra casar, novo demais pra trabalhar, novo demais pra viajar.
Balela. Não existe tal coisa. Ninguém é novo demais pra coisa alguma simplesmente porque as coisas podem vir a qualquer tempo. Não ter maturidade suficiente pra tomar uma decisão ponderada é uma condição irrevogável por toda a vida. Toda nova situação é uma situação da qual não se sabe as consequências, é uma situação inédita e por isso mesmo, totalmente passível de erro. E o erro é mais uma daquelas coisas das quais não se pode fugir. Cada experiência é única e isso é que é o grande barato de vivê-las. Algumas são parecidas e outras são absurdamente parecidas, mas iguais, iguaizinhas mesmo, nunca!

Além disso, as pessoas supervalorizam o namoro. E o volume e variedade do namoro. Mas o namoro é um tipo de relação fadada ao fracasso. Ou ele acaba porque o casal se desfaz ou acaba porque o casal se rearranja na configuração do casamento. E cada namoro desfeito nada mais é que a constatação da imaturidade de uma pessoa de não ser capaz de escolher alguém que combine satisfatoriamente com ela.

Cada decisão traz consigo um sacrifício. Cada escolha vem com a necessidade de desistir de algo.
Naquela época eu já considerava que viver com a minha noiva traria mais felicidade do que a possibilidade de beijar quantas e quais garotas eu pudesse vir a querer pelo mundo. Eu acreditava que juntos nós poderíamos construir coisas bem mais ricas e interessantes do que individualmente. E que a história mais bacana que eu fosse querer contar seria a história do sucesso do nosso amor, e não histórias do fracasso de relações passadas e desfeitas com pessoas com as quais eu não tinha mais correspondência.

No fim, acabei não me casando e aquela se tornou mais uma das histórias de fracasso que costumo postar aqui. Mas embora eu tenha deixado de acreditar na pessoa com quem tinha desejado me casar, nunca deixei de acreditar na firmeza e coerência daquele meu desejo.

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