sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Medo (2)


Eu tenho medo. Muito medo de envelhecer. Mas não (só) por causa da velhice em si.
Tenho medo de que a idade me torne frio. De que as experiências acumuladas transformem-se em experiências decantadas e nada mais me impressione, nada mais me empolgue, nada mais me atraia, me conduza ao perigo, à excitação da descoberta ao gozo do inusitado.

Tenho medo de que tantos sentimentos, vividos de forma tão intensa acabem gerando um calo que reduza minha sensibilidade. Que diminua a absorção da pancada de modo que tudo pareça mais tênue, mais brando do que realmente é.
Tenho medo de que tudo fique morno.

De que as traições me tornem absoluta e irremediavelmente desconfiado até o ponto em que eu não me entregue a mais ninguém. Não deseje mais ninguém. Não troque mais nada por receio de ser roubado. De que eu deixe de ser um crédulo e me torne um cínico. De que nada mais me toque, nada mais me afete. De ter tido tudo e terminar com nada.

Eu hoje tenho medo de que a vida me consuma antes que eu consuma ela.

Medo de perder o viço. De perder o tesão. De não ter paixão nem curiosidade. Medo de que tudo passe, de que tudo reduza-se à condição de lembranças, de saudades.

Medo de que tudo se reduza a sentir medo.

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