segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A vida é incrível

Você acorda e tenta de todas as formas se agarrar à ideia de que não é segunda-feira mas o despertador insiste que sim. Ele ganha a discussão mas você adia ao máximo possível a iniciativa de esfregar os olhos e levantar; já dizia o ditado: se não pode vencê-lo, pirraceie.

Com meia hora de atraso você se levanta cambaleante, escolhe as roupas que estão por cima, veste, prepara o café da manhã e coloca um disco legal pra tocar, pra ver se de repente isso o anima. Não anima, é claro. Puta disquinho chato!
O relógio te avisa que seu atraso já evoluiu pra quarenta minutos. Você engole rápido o café e sem querer ele escorre na camiseta. Então você troca de camiseta, mas não tinha mais nenhuma passada então se veste com aquela amarrotada mesmo. Pelo menos não está babada de café.

Os dentes são displicentemente escovados, o cabelo desmazeladamente penteado e enquanto espera o elevador você lembra que deixou em cima da escrivaninha aquele CD importante com o arquivo que você precisa pra apresentação. Volta, pega o CD, a chave engasga na fechadura e o elevador não te esperou.

A caminho do ponto de ônibus uns pingos grossos de água começam a cair mas é tarde demais pra voltar e pegar o guarda-chuva e, por algum motivo as pessoas não parar de olhar pra sua cara na rua.
Entrando no ônibus você vê seu reflexo no espelho e percebe que ficou uma mancha branca de pasta de dentes que vai do canto esquerdo da boca até o começo do queixo. Querendo enfiar a cabeça num buraco você esfrega o dedão no queixo pra limpar mas é claro que o ônibus inteiro já notou.

Você se senta no primeiro lugar que fica vago e quando finalmente relaxa, percebe que é um acento reservado e uma senhora velha e gorducha cheia de varizes azuis e imensas na panturrilha te olha como se você fosse o maior filha-da-puta do mundo. Você levanta, dá o lugar e resolve atravessar a catraca, mas acabaram os créditos do bilhete único e você esqueceu, assim como esqueceu que só tinha dois reais e dez na carteira. O cobrador te olha com cara feia mas te deixa passar. Todos os passageiros do ônibus te olham com cara feia.

A guria esquisitinha, sentada diante de você, se oferece pra segurar sua bolsa. Você responde que, "não tudo bem" ela deixa estar mas repara no logo estampado na bolsa e te pergunta se você estuda na faculdade tal. Você responde que já estudou, ela revela (sem que você pergunte, porque, na verdade não está minimamente interessado) que está cursando publicidade na mesma faculdade. Você se força a sorrir e diz que fez esse curso também.

Três anos depois, na sua festa de casamento você olha pro lindo rosto dela enquanto os dois cortam o bolo e os flashes das câmeras te cegam e se lembra daquele como sendo o dia mais lindo da sua vida.

2 comentários:

Clara disse...

hahahaha
o final foi surpreendente, adorei a descrição da rotina toda como algo bem banal e a reviravolta que tudo dá sendo descrita da mesma forma, como algo que é parte do cotidiano.

Unknown disse...

huahauhaua

Que surpresa boa descobrir esse blog por acaso vagueando na internet!
Gostei muito, vou voltar sempre.

E sinta-se convidado a visitar os meus, desde que acompanhado por uma boa tequila!

www.clubedasmeninas-mulheres.blogspot.com

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bjs