terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sentir-se um homem


Desde os 15 anos eu queria sair de casa. Me irritava e entristecia ser acordado de manhã pela minha mãe e ver que a roupa já estava escolhida e dobrada em cima da cama. Que meu café da manhã já estava pronto e fumegante na mesa da cozinha.
Eu entendia o carinho contido naquele gesto, mas aquele carinho me tolhia. Me tirava o que na época já era a coisa mais importante pra pessoinha que eu era: a auto-suficiência.

Olhando pra essas coisas hoje, não consigo imaginar de onde tais conceitos vieram. Não sei precisar como é que essas idéias ancoraram na minha psique e na minha índole. A impressão que tenho é a de que sempre estiveram por ali. Porque já estavam antes e permaneceram depois.

Aos 19 anos eu já estava noivo e aos 20, casado e vivendo com minha própria família.

Uma noite, depois do trabalho, aluguei um filminho pra ver em casa a dois. Eu estava no sofá deitado, com a cabeça da minha mulher apoiada no peito quando a filha dela acordou e, fazendo manha quis se aninhar conosco. Acomodei-a no outro lado do peito e quando achei que poderia enfim voltar minha atenção pro filme, o gato, provavelmente enciumado, resolveu que não lhe era mais suficiente ficar no tapete e deitou-se enrolado sobre a minha barriga.

Foi a primeira vez na vida em que me senti um homem. O macho alfa da minha matilha, provedor dos meus, sendo capaz de dar abrigo e carinho praqueles à minha volta. Por mais careta, por mais retrógrado, por mais romântico, por mais bobo que isso possa ser (ou parecer), naquele momento percebi que eu tinha chegado onde ansiava. Senti felicidade. Satisfação. Tudo era como eu queria. Tudo era como deveria ser. Eu finalmente me sentia dono de mim. Senhor das minhas decisões e senhor da família que eu tinha erigido.

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