terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eu te odeio

Eu te odeio. Odeio cada segundo de atenção que te dispensei. Odeio cada boa lembrança nossa. Odeio ter te feito um jantar à luz de velas porque agora não posso mais fazer nenhum jantar à luz de velas sem lembrar de você.
Sem lembrar de cada pedaço meu que você roubou. Sem lembrar que eu era uma ótima companhia antes de você me macular. Sem constatar que você matou o bom homem que eu era e que eu poderia ser pras mulheres que vieram depois de você. Mas jamais serei de novo porque você levou embora o que tinha de melhor em mim.
Eu te odeio porque você era covarde. Infantil, mesquinha e egoísta. Eu te odeio porque você era amarga e desconfiada. Eu era romântico e pueril. E agora eu sou amargo e desconfiado também.
Eu te odeio porque você deliberadamente roubou minha paz de espírito, minha crença nas pessoas, minha crença na paixão e minha ilusão de almas gêmeas. Você roubou minha credulidade ingênua no amor eterno.
Eu te odeio porque eu era bobo, eu sabia que era bobo e gostava de ser bobo. Porque eu acreditava nos filmes água com açúcar e agora só bebo ironia e Jack Daniels.
Eu te odeio porque te escrevi meus melhores poemas. Te odeio porque hoje eu sou tão seco, tão pobre, tão cru e tão vazio que não consigo escrever nem um verso.
Te odeio porque você me fez amadurecer. Porque você me fez ver a bosta que é o mundo. Porque você apagou minha luz. Porque você me ensinou a ter ciúmes e agora eu vivo sempre com um pé atrás.
Eu te odeio. E não acredito na sua felicidade. Não por dor de cotovelo. Mas porque você é tão triste, tão pequena, um acidente tão pobre e tão vil do destino que a felicidade não te cabe. Não é da sua natureza.
Eu te odeio e tenho dó dos que te amam. Porque você mente pros que te amam. Compulsivamente. E porque suas mentiras me fizeram cauteloso. E eu preferiria não ser cauteloso.
Eu te odeio e torço pra que você morra lenta e dolorosamente. Porque eu morri. Morri um pedacinho por vez ao longo dos três anos que você me roubou. E quando eu me pego, num dia de ressaca como este, gastando meu ódio com a sua lembrança, me pergunto quantos anos a mais você vai me fazer perder. Quanto da minha vida será extirpada só porque naquele dia dez de dezembro eu cometi o erro crasso de te beijar.

6 comentários:

Unknown disse...

Ódio também é um pouco de amor, não seu antônimo. O antônimo de amor é indiferença, e eu espero que um dia vc chegue lá.

Luna disse...

lembrei de uma coisa que escrevi.


"meu único desejo é ficar violentamente na sua memória, de uma forma que você enlouqueça tentando encontrar meus timbres em outras risadas e nunca encontre. quero que isso cause te uma dor implacável e uma tristeza que de tão grande, não vai caber em seu coração. e que isso te dilarece por dias e noites. e quando você me esquecer desejo que se apaixone de novo e que esse alguém deixe teu coração em carne viva, e que te arda e nada te faça sentir melhor. pra então quem sabe, você entenda essa maldita dor que sinto agora. eu te odeio"

Adonay Esteves disse...

Vocês gostam disso, né? Sacanas. Deixar marcas indeléveis.....

Fotossintese disse...

adorei a resposta de Luna
ô povo pra odiar!
hahaha

JAIRCLOPES disse...

Thi,
Fazia um tempo que eu não te visitava, mas como você está bom! Está cada vez melhor guri! Este texto fazendo a dor de cotovelo clássica está um coisa de louco! Vê se aceita o conselho que te dei há algum tempo e publica teus escritos em um livro. Eu que escrevo muito pior que você acabei de publicar meu primeiro livro e já estou com segundo num CD para enviar à editora. Abraços, JAIR.

Rodrigo Garcia disse...

Essa estória de que ódio é um pouquinho de amor é uma tremenda de uma falácia, criada pra confundir e controlar. Mais fácil seria dizer que cada caso é um caso.