quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

70 anos

Quando eu tinha 18 anos, estava noivo e prestes e me casar. Já contei essa história. Os mais velhos vinham me aconselhar a não fazer isso. Diziam “Vá aproveitar a vida, conhecer outras pessoas.” E eu respondia “Não quero conhecer outras pessoas, eu já aproveito bastante a vida do lado da minha noiva.”
Mas por conta de uma série de coisas, de uma quantidade imensa de acontecimentos aleatórios, meio que por acaso acabei seguindo os conselhos dos mais velhos.
Conheci outras pessoas, não me casei aos 18 mas me casei aos 22 (com uma outra namorada) e depois me casei de novo aos 27. Aos 30 já estava solteiro mais uma vez e conhecendo mais pessoas e “aproveitando a vida”.
Não sinto o menor arrependimento por nada que tenha feito ou deixado de fazer. Sério.
Mas há uma coisa que clama veementemente por ser dita:
Conhecer pessoas e aproveitar a vida, assim como os mais velhos diziam é a maior e mais absurda balela.
É bem verdade que conheci mais de uma centena de pessoas. No fim das contas tive casos, romances, noites de sexo com tanta gente que nem consigo contar. Me apaixonei profundamente por algumas, me apaixonei parcialmente por outras, sofri e amei bem poucas. Todas elas – isso é verdade – deixaram alguma marca na minha alma e na minha índole. Todas elas me afetaram nalgum nível (seja lá qual for).
Mas se me perguntarem se sou mais feliz agora do que diante da perspectiva de casamento aos 18, eu talvez diga que não. Se me perguntarem se eu considero indispensável na minha biografia os anos em que estive “aproveitando a vida”, talvez eu responda que tanto faz.
Não foi fundamental. Minhas experiências não foram insubstituíveis. Pessoas são pessoas. Ninguém é um acontecimento extraordinário. Ou, pelo menos, nem tanto assim.
Mesmo as pessoas que me marcaram mais, passaram. Marcaram, inspiraram posts no blog, inspiraram noites e noites de filosofia, justificaram o dinheiro que gasto mensalmente com a psicóloga, mas passaram. E vão passar. E vão continuar passando.
Minha vida não é mais especial porque não casei com minha primeira namorada. E tenho quase certeza de que não seria menos aventuresca se eu tivesse me casado.
Eu converso com pessoas mais velhas que queriam não ter casado, conheço pessoas jovens ansiosas por encontrar alguém com quem casar, gente que namora há anos desejando a possibilidade de trepar com outras pessoas e - poutz - isso faz mesmo alguma diferença?
Por mais única que cada pessoa seja, elas não são tão diferentes assim. Conhecer uma multidão, no fim, é mais uma "dispersão" do que uma "aglomeração".





Eu tenho tantas histórias que renderiam uma dezena de livros. Uma dezena de livros de qualidade questionável. Uma quantidade imensa de histórias que vão morrer comigo. Uma imensidão de histórias que não vão fazer a menor diferença pros meus netos. Histórias que eu terei esquecido aos 70 anos.