domingo, 11 de agosto de 2013

Madri

Nem toda história de amor acaba mal. Nem toda história de amor acaba.

Eu conheci essa menina numa noite em que tinha saído pra encontrar outra menina, que não apareceu. Nos conhecemos na fila do banheiro e mais tarde, no auge da festa, dançamos juntos, conversamos, rimos, bebemos e nos beijamos.
Ela estava de malas prontas pra Madri, disse que se sentia sufocada em São Paulo, disse uma porção de outras coisas que não lembro porque eu estava muito bêbado e disse que gostava de mim.
Dias depois nos encontramos de madrugada, sentamos sozinhos num dos bancos da Roosevelt, bebemos cerveja e conversamos por horas.
Fomos pra casa dela, colocamos Nina Simone e conversamos por mais uma porção de horas.
Eu queria beijá-la, queria mordê-la, queria bebê-la mas também queria lhe escutar falar de si. Queria falar de mim. Queria acelerar aquele processo, gastar todas as fichas, consumi-la completamente antes que o dia amanhecesse e eu tivesse de ir embora e deixa-la ir embora também.
Eu queria que ela mudasse de idéia, que ficasse. Queria que ela fosse e fugisse dessa cidade de merda, mas não queria que fugisse de sob minhas asas. Eu queria entrar no avião com ela.

Eu queria tudo e queria tanto que deitei-a no sofá da sala, a Nina Simone gritando “Feelings”, os dentes dela no meu peito, seus cabelos engastados nos meus dedos, suas pernas em torno das minhas costas e toda a cerveja que tínhamos bebido e tudo o que tínhamos conversado reverberando na minha cabeça que eu já não sabia mais nada, que eu já não distinguia onde acabava meu corpo e onde começava o dela nem quais gritos eram nossos nem quais eram da Nina Simone. Eu queria tudo e queria tanto que naquele instante eu quis de todo coração ter um filho com ela e quis a ponto de vê-la correndo no quintal e rolando na grama com meu filho, sorrindo aquele sorriso imenso e luminoso, aqueles gestos cheios de vida, aquela leveza de quem não se importa com o que não tem importância e só.

Dormimos.

Nem toda história de amor precisa continuar. Só precisa continuar sendo uma história de amor.
No dia seguinte ela foi pra Madri.

domingo, 4 de agosto de 2013

Hoje aconteceu

Poucas sensações no mundo me são tão caras quanto a de estar apaixonado.
Andar pela rua sorrindo pros transeuntes mal-humorados, sentindo-se pisar em nuvens. Deitar na cama pra dormir e se pegar revisando na memória as coisas ditas, os detalhes anatômicos mais charmosos. Acordar na manhã seguinte e escovar os dentes planejando que pretexto inventar pra dar um telefonema, mandar um recado, convidar pra um jantar. Recusar sem remorso um trabalho novo só pra ter tempo de ficar juntos. Passar uma tarde inteira batendo papo sobre as coisas mais variadas, emendando um assunto no outro e no outro e depois voltando ao primeiro assunto sem concluir nada. Projetar futuros possíveis mesmo sabendo que podem não ser possíveis. Querer – sinceramente – saber sobre como foi o dia.
Ficar de mão dada.

Mas apesar do prazer que isso me traz, apesar da necessidade quase física que eu tenho de sentir essas coisas, apesar disso funcionar pra mim meio que como uma droga, a idade me fez seletivo, ranzinza e fechado. É cada vez mais difícil ter essas sensações e é cada vez menos visceral quando acontece.

Hoje – porém – aconteceu.
E mesmo que não se repita pelos próximos dias ou semanas (ou meses ou anos), hoje aconteceu e eu estou pleno, bobo e feliz.

Hoje aconteceu e eu vou dormir pensando nela.