A verdade é que eu não passava de um
moleque. Um guri de vinte e poucos anos, babaca como todo mundo de vinte, vinte
e poucos anos de idade, que acha que o tempo nunca vai passar, que as coisas
nunca vão mudar, que nunca vai ser tarde demais.
Eu era um imberbe arrogante e ela sabia.
Ela tinha a perfeita noção da minha imaturidade, embora me amasse francamente.
Apesar disso (ou justamente por isso) talvez
ela se sentisse insegura. Talvez o fato
de ela ser mais velha, mais vivida, mais calejada por relações anteriores e por
um casamento que tinha durado mais que o dobro do meu ela percebesse os pontos
fracos, as falhas, os buracos daquela relação. Talvez, mesmo querendo que
aquilo durasse, que aquilo vingasse - tanto quanto eu queria - ela não fosse
capaz de acreditar plenamente no sucesso de nós dois como um casal.
Porque ela via além.
E certa vez, enquanto conversávamos sobre
qualquer coisa, de noite, juntinhos, deitados lado a lado na cama, ela disse
num tom perfeitamente natural, sem medo, sem rancor, sem tristeza “Você vai se
cansar de mim.”
Eu me senti ofendido. Parecia que ela
insinuava que eu não era maduro, que eu não estava pronto o suficiente pra
aquilo e retruquei “Nunca!” E ela continuou dizendo “Vai sim. Você é jovem,
acabou de se mudar pra uma cidade grande, cheia de gente e de encantos, cheia
de novidades. Uma hora você vai começar a desejar tudo o que sua vida nova tem
a oferecer, agora que você não é mais casado, não tem mais obrigações com a
filha da sua ex... e daí você vai me deixar.”
Eu não lembro o que respondi, mas lembro de ter respondido e de ter ficado intrigado porque, embora eu fizesse questão de negar, embora eu desejasse veementemente que ela estivesse errada, aquilo fazia muito sentido. Era muito verdadeiro. “Improvável”, pensei, “mas verdadeiro.”
Eu não lembro o que respondi, mas lembro de ter respondido e de ter ficado intrigado porque, embora eu fizesse questão de negar, embora eu desejasse veementemente que ela estivesse errada, aquilo fazia muito sentido. Era muito verdadeiro. “Improvável”, pensei, “mas verdadeiro.”
E embora isso tenha acontecido muito, mas
muito antes de eu ter querido terminar o namoro, fico me perguntando se ela
tinha mesmo razão e acabou prevendo o que aconteceria no futuro ou se, por
outro lado, o fato de ter dito aquilo acabou por plantar o verme da dúvida no
meu coração?