quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Amor é uma Escola de Canalhas

Os relacionamentos humanos são, pela própria natureza, complicados.
As pessoas são diferentes, umas das outras e cada pessoa tem um conjunto próprio e muito específico de características. Igual a uma impressão digital, que nunca é igual à outra. À primeira vista elas podem até ser semelhantes, podem parecer idênticas mas, olhando os detalhes, são totalmente díspares. Isso é a mágica e a maldição de tudo.

Minha vida sempre foi pautada, sempre foi majoritariamente dirigida e baseada nos relacionamentos que tive. Todos eles. Os relacionamentos de amizade, os relacionamentos sexuais e, principalmente, os relacionamentos amorosos. As amantes que tive, as mulheres que amei, os casos que vivi. Tudo isso sempre foi a espinha dorsal da minha vida. O esboço a partir do qual eu compunha o resto da minha história.
Daí a necessidade quase fisiológica que senti de falar a respeito, de discutir o assunto. De desvendar o mistério.
Essa premissa não é só minha. Claro. Quase todas as músicas, a maioria dos filmes, das peças de teatro, dos livros mais vendidos tratam do mesmíssimo assunto.

Mas pra mim tudo sempre foi um pouco mais complicado.

Não sei até que ponto é pretensioso e arrogante dizer o que vou dizer mas, sempre senti que eu via as coisas de forma um pouco diferente das outras pessoas. Embora meu objetivo fosse o mesmo de todo mundo (amar e ser amado), a lógica do meu ponto de vista sobre "qual é o mecanismo do amor", sobre como as relações se dão e se constroem, sempre passou a uns metros de distância do ponto de vista de todo o resto das pessoas com quem eu conversava a respeito. Se meus amigos e companheiros(as) de boteco pensavam da forma "A", eu pensava da forma "B". E perceber isso me deixou ainda mais intrigado. E um pouco irritado comigo mesmo.
Eu pensava "Se todo mundo tem esse ponto de vista e age sempre dessa forma, por que logo eu, vejo as coisas com uma cara tão diferente?"

Eu estudei, analisei, conjecturei sobre praticamente tudo o que diz respeito às relações amarosas das pessoas e entedi (deixando a falsa modéstia de lado) muito bem como é que as pessoas se dão, o que é que as pessoas pensam e qual o mecanismo que as faz reagir como elas normalmente reagem. Há sim, um padrão de relacionamento humano.

Não faço parte desse padrão. Azar o meu. Seria tudo muito mais fácil pra mim se eu fizesse. Principalmente considerando a importância que sempre dei ao tema.

Eu tentei me enquadrar e meu casamento foi a tentativa mais significativa que fiz nesse sentido. Por um tempo eu me enquadrei, por tempo eu fui o que se espera de um namorado, de um marido e até de um pai. Por um tempo.
Depois desse tempo aquilo tudo começou a me sufocar de tal forma que tive de cair fora e fugir pra bem longe. Então vim pra São Paulo, zerei minha vida e comecei de novo. Tudo de novo. Resolvi tentar outros métodos pra me fazer inserir na convencionalidade. Não deu certo também, é claro.
Deu errado e deu muito errado! Deu errado ao ponto de eu me ver atolado num mar de lama, num poço gigantesco de areia movediça que uma médica diagnosticou como depressão.

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Eu emergi. Ao voltar à tona (e muito embora eu ainda não tenha saído completamente daquele estado, agora já consigo pelo menos respirar) percebi que eu vinha comentendo sempre o mesmo erro.
As relações já são complicadas por si só e não facilitava eu tentar simular que acreditava no que acredita o resto do mundo. Não facilitava eu emular os comportamentos padrões dos meus amigos e colegas. Não facilitava eu tentar me enquadrar. Isso tudo só deixava o processo ainda mais penoso, ainda mais complexo e diminuía significativamente as chances de eu conseguir obter qualquer satisfação emocional.
Ao voltar da depressão eu me toquei que realmente penso e enxergo tudo muito diferente da maioria das pessoas mas, principalmente, percebi que depois da depressão enxergo tudo muito diferente do modo como eu mesmo enxergava antes.

E se antes eu procurava me encaixar, agora eu procuro quem saiba e possa se encaixar a mim.
Não sei se esse alguém existe, mas isso certamente vai render novas e boas histórias.
Mas mais importante que isso é que eu resolvi parar de procurar.

Eu simplesmente não me importo mais em encontrar um amor. Simplesmente não quero mais encontrar. Os relacionamentos amorosos continuam centrais na minha vida mas deixaram de ter tanto peso, tanto significado, tanta novela.

Por causa dessa, digamos "mudança de direcionamento" o Escola de Canalhas deixou de fazer sentido.
Não tem mais razão de existir. Enfim.

Não quero mais escrever pro Escola. Não sinto mais desejo de abordar esses assuntos, muito menos sob esse enfoque. Provavelmente eu poste algum novo texto aqui, num momento ou noutro, mas vai ser raro.
O certo é que eu abra outro blog. Pra falar de outras coisas. Disso e de outras coisas.
Em todo caso, quero agradecer a todos que acompanharam o Escola. Quero agradecer aos comentários e quero crer que meu textos tenham lhes inspirado a pensar, a questionar ou a mudar os rumos de suas próprias relações em algum momento de suas vidas.
Isso tudo terá sido muito em vão se eu não consegui influenciá-los ou comovê-los de alguma forma. Como artista, guardo a idéia romântica de extrair satisfação por conseguir atingir os corações e mentes das pessoas...
Mais uma vez: é pretencioso? Sim, talvez seja. Mas é o modo como eu vejo a vida e resolvi que nunca mais vou abdicar do meu modo de ver a vida só pra não soar arrogante, pra não parecer babaca ou pra tentar ser igual às outras pessoas.

O que sei é que vocês me influenciaram. Conheci muita gente interessante atraves do Escola e me confrontei com opiniões que expandiram meu ponto de vista sobre muitas coisas.
Obrigado por isso também.

P.S.
Pouco antes de postar, li isso e achei que tinha a ver com o que eu queria dizer.